quarta-feira, 7 de setembro de 2016

“La rentrée” do circo político-partidário

Neste final de férias, férias só para quem pode como é o caso da classe política em geral, que tem sempre as subvenções garantidas, os actores chefes congregam as hostes para alinhavarem estratégias e perpetuarem o circo e a palhaçada pseudo política durante mais um ano, pelo menos, enquanto o povo vai sofrendo cada vez mais com impostos, taxas e cortes de rendimentos e de direitos.
Pensei que uma universidade fosse uma instituição altamente prestigiada e vocacionada para o ensino superior, para a investigação e para a especialização, sempre na vanguarda do conhecimento, que transmite a verdadeira sabedoria acerca do mundo e do homem, isenta, universal e objectiva. Mas afinal, todos os anos, há uma suposta “universidade” que abre as portas, apenas durante dois ou três dias para formatar alguns futuros carrascos do povo, através de meia dúzia de larachas e visões particulares do mundo e da vida, agregadas a lobbies e poderes legitimadores desta farsa democrática em que vivemos.
Formar verdadeiros especialistas e profissionais, competentes em qualquer área de actividade, demora anos ou décadas. Por isso, desconfio muito da competência de certos operacionais amadores que aprendem do pé para a mão a honrosa arte de governar, em “universidades de Verão” ou em acções de suposta “formação de quadros”, durante um fim de semana, seguindo um verdadeiro programa de “Novas Oportunidades”.
Ninguém se lembra de aproveitar esta pausa estival para um verdadeiro estágio formador e trocar a areia macia da praia pelo peso da areia e do cimento de um balde de massa, na construção civil ou pela dureza do esforço de quem roça o mato e as silvas que todos os anos se transformam num imenso pasto de chamas. O serralheiro sabe forjar o ferro e temperar o aço no calor do fogo, mas o verdadeiro líder tem que ser forjado no confronto directo com a dura realidade da vida e não no conforto mimado do sofá partidário, embalado pelo discurso fácil de promessas enganadoras.
Neste palco ou passerelle das vaidades político-partidárias, há quem transforme o velho, frio e disciplinado politburo num escaldante arraial de diversão diurna e nocturna, numa festa da música e de sedução, junto à praia, no meio da abundância de bifes, bifanas e bebidas refrescantes que fariam inveja aos pobres proletários do séc. XIX. É um enorme arraial, na quinta privada da família, no verdadeiro estilo da próspera propriedade latifundiária e capitalista, animado ao som dos clássicos da ideologia materialista, das modas clubísticas e da repetida cassete discursiva, que quase esqueceu, já, o rigor da luta pelo controlo operário, pelas nacionalizações, pela unicidade sindical, contra o patronato reaccionário e explorador e pela defesa dos alegados direitos dos trabalhadores porque ao longo destes quarenta anos de arraial pseudo-revolucionário e de perseguição e destruição de todo o patronato, considerado fascista, aquele patronato que criava riqueza e dava emprego, o país está agora a saldo, nas mãos do capital estrangeiro, controlado pelos lobbies latifundiários da finança europeia e mundial (virou-se o feitiço contra o feiticeiro) e os portugueses estão reduzidos à indigência e condenados à emigração, ao “salve-se quem puder”, ao desemprego e à submissão e exploração de políticos ilegítimos, irresponsáveis e incompetentes. Com o país em ruínas, sem operários e sem proletários (porque já não há prole), a velha cassete, os imperativos pseudo-revolucionários e as palavras de ordem já se tornaram completamente obsoletas e deslocadas.
Enquanto decorre esta palhaçada, o país é devorado pelas chamas que consomem a riqueza florestal e ambiental do país, arruínam vidas e propriedades e ninguém tem uma palavra sobre a forma de acabar com esta calamidade nacional. Em vez disso, o palco partidário transforma-se em ringue de lutas entre galos pelo poleiro e de acusações sobre o passado e ameaças para o futuro.

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