quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A lei do aborto é a lei da crise



Camões propôs-se cantar, em “Os Lusíadas” os heróis da pátria designando-os como “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. Se Luís de Camões vivesse hoje não teria, com certeza, heróis que merecessem tão ilustre poema. Pelo contrário os heróis de hoje, os donos do poder, os anti-heróis, são aqueles que, por obras execráveis se vão da lei da vida libertando, colocando todos os portugueses na mesma situação.
Diz a sabedoria popular: “vamos à vida que a morte é certa”. Ninguém, no seu perfeito juízo, deseja morrer e só espera que isso aconteça ao fim de uma longa vida. Mas em Portugal, apesar de toda a gente saber que a morte é certa, esta verdade absolutamente inquestionável, ainda assim, foi escrita, reforçada e aprovada, ao mais alto nível do poder, como uma lei fundamental que deve vigorar em todo o país. Como é que um governo que aposta na morte, apoia a morte e financia a morte, pretende que haja vida, haja futuro e prosperidade? Ou o governo governa para a vida ou governa para a morte, não pode governar para as duas coisas. Como é que um agricultor pode colher bons frutos se destruir a sementeira pouco depois de lançar a semente à terra?
Estamos perante uma lei inconstitucional porque todos têm direito à vida e pelo mesmo motivo esta lei é contra a declaração universal dos direitos do homem e contra o direito natural.
Mas o absurdo desta morte oficializada é que se pratica mesmo antes do nascimento. Estamos perante um enorme genocídio, uma matança de inocentes que configura um cenário de guerra em que se mata “por amor”, o que se torna ainda mais absurdo. O estado de calamidade em que se encontra o país e grande parte da europa e do mundo, que tem apostado nesta linha da morte, reflecte-se no caos, no desemprego, nas falências, na miséria e na fome. Aparentemente a vida corre o seu curso normal: a terra gira e dá lugar aos dias e às noites. As ruas, as praças, as casas e os campos parecem continuar nos seus lugares, mas por detrás destas aparências o mundo está em destroços e virado do avesso. As vítimas do genocídio clamam por justiça. Os gritos de revolta contra a fome e a miséria só demonstram que a guerra não está ganha e que os vencidos serão, no fim, vencedores.
A evolução tecnológica, cultural e científica que deveria permitir uma vida tranquila, farta e feliz não resolve, afinal, nenhum dos nossos problemas. Nunca a humanidade teve tanta capacidade de produzir riqueza como hoje, mas vivemos na miséria. Os gritos de revolta, as manifestações e as discussões ao nível do poder político só revelam o estado desta doença epidémica que alastra e contamina toda a sociedade. Se tudo estivesse nos seus lugares veríamos os médicos sem muito trabalho, sinal de que toda a gente era saudável, os advogados sem expediente, os bombeiros ociosos, os polícias folgados, etc. e por outro lado, veríamos todos os campos cultivados, as fábricas cheias de trabalho e as escolas repletas de alunos e professores. Mas, infelizmente o que observamos são as clínicas de aborto com as portas abertas para a morte, as maternidades encerradas, as estradas e auto estradas sem veículos, os cafés e restaurantes sem clientes e as fábricas na falência, em ruínas e os trabalhadores sem trabalho e a passar fome.
Ninguém pode matar uma águia peneireira, um lince da Malcata, cortar um ramo de sobreiro ou de carrasqueiro, ninguém pode derramar lixo poluente na água ou no solo ou destruir um ninho de perdiz, ninguém pode fazer nenhuma destas coisas porque será castigado por estar a destruir o ambiente, mas uma mulher pode, livremente, matar um filho. E se o fizer, não recebe qualquer castigo, mas pelo contrário, terá todo o apoio do estado. Enquanto o estado desvia dinheiro para pagar o aborto, silenciosamente, falta-lhe dinheiro para pagar aos seus funcionários, retira-lhes os subsídios de férias e de Natal, corta-lhes os vencimentos e pensões, despede quem precisa de trabalhar e sobrecarrega com impostos os que ainda resistem, tornando a vida insustentável.
Vivemos hoje num mundo impróprio para cardíacos mas, num cenário destes, não haverá ninguém que não sofra do coração, a não ser que tenha um coração de pedra.
Por mais medidas de austeridade que se tomem, por mais contas de matemática que se façam, por mais revoltas e manifestações que saiam à rua, por mais lutas sindicais que se desenvolvam para diminuir o défice e para resolver a crise, tudo será em vão enquanto o défice da vida for maior do que o da morte.
Num país em que grande parte do orçamento serve para financiar a morte, em que parte da medicina está ao serviço da morte em vez de estar ao serviço da vida, em que as empresas e as pessoas estão asfixiadas por todo o tipo de impostos, taxas e portagens como é possível sobreviver?

domingo, 9 de setembro de 2012

Abaixo a democracia da miséria e da morte


Esta é a chamada casa da democracia (Assembleia da República). Que democracia é esta que põe o povo na miséria? Que fazem ali 230 deputados que prometeram trabalhar para o bem do povo? Onde está o bem do povo? Que povo defendem e representam, se o povo está cada vez mais pobre e mais explorado, enquanto a eles nada falta? Quer façam muito ou pouco, bem ou mal, não lhes falta a comida na mesa, a casa para viver, carro para passear e muitas outras mordomias, enquanto o povo sofre, passa fome, trabalha no duro ou está desempregado e sem futuro.
Para que servem, hoje, a assembleia da república e o governo se quem manda em Portugal é a tróica?
Se se fecham escolas, centros de saúde, fábricas, empresas, lojas, etc., porque não se fecha também a assembleia da república? O país está a fechar, está a morrer, porque não se fecha também esta casa? Que falta faz? Grande parte da juventude já emigrou, outros querem emigrar e o aborto mata os que querem nascer. Muitas regiões estão despovoadas, as florestas estão queimadas e as autoestradas estão às moscas. Quando os velhos forem todos para o cemitério, ficam só os deputados. Para quê? Hoje, mais do que nunca, esta casa é inútil, é perversa e prejudicial:
Esta assembleia é inútil, porque as leis que nos governam são impostas pela troica e por Bruxelas. Não vale a pena discutir e debater seja o que for. Tudo está já, previamente, decidido pelos donos do dinheiro que nos foi emprestado.
E que utilidade têm as leis, que foram, ali, aprovadas ao longo de todos estes anos, se cada vez estamos pior? Que fazem ali duzentos e trinta deputados, assessores, comissões disto e daquilo, secretários, etc. etc., um sem número de gente inútil que está ali à custa do povo que cada vez mais se afunda na miséria? Isto não é um verdadeiro enriquecimento ilícito? Quais os resultados, por exemplo, das inúmeras comissões de inquérito, das audições e outras investigações feitas ao longo de todos estes anos de democracia? Quantas pessoas foram processadas, julgadas e castigadas? Isto não é uma autêntica fantochada?

Esta assembleia é perversa porque as leis, ali aprovadas, são a causa de toda esta miséria. Quantas vezes, em propagandas eleitorais, estes senhores, toda esta classe política, nos prometeu progressismo, felicidade, bem estar, sucesso, crescimento económico e muitos outros benefícios e facilidades quando afinal nos conduziram a todos para a penúria? A quem é que o povo vai pedir responsabilidades? Onde está a competência desta gente engravatada e bem vestida? Tirem a gravata que até parece mal. O povo está de tanga. O povo está na miséria. Vendam esses carros topo de gama que são do povo. Andem a pé. Entreguem o palácio ao santo que só ele nos pode valer. Estamos todos numa enorme calamidade. Estamos todos em estado de sítio. O povo está explorado e escravizado e não aceita mais impostos que só enchem os bolsos de grande parte dos políticos, que são autênticos carrascos do povo e parasitas alarves.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A prepotência das greves

Nesta pseudodemocracia em que vivemos as greves já não servem para reivindicar melhores salários, para protestar contra a exploração, a prepotência e abuso de poder da entidade patronal. Hoje a greve da CP em dias feriados é um autêntico atentado contra os direitos da maioria do povo português, contra as classes mais desfavorecidas que não têm outra alternativa senão os transportes públicos. A greve da CP é um autêntico abuso de poder e uma inaceitável prepotência de uma classe que trabalha, que tem emprego, mas não está para sofrer, para se sacrificar, para suportar a austeridade, como os funcionários públicos a quem foram retirados os subsídios de férias e de Natal e a quem cortaram no vencimento. Se a Constituição define o Estado Português como uma sociedade solidária, isso não é verdade em relação a esta classe que, alegadamente, presta um serviço público, mas na realidade o serviço que estão a prestar, como trabalhadores e cidadãos deste país é um mero serviço privado. Os interesses que comandam a sua luta e a sua acção são apenas e só os seus próprios interesses. Como são trabalhadores de uma empresa pública, quem lhes paga é o povo com o dinheiro dos impostos e o seu dever seria servir bem o povo, estar ao seu serviço e não o contrário, servirem-se dele, prejudicando-o. O povo é a entidade patronal que eles querem chantagear. Para que serve uma empresa de transportes se o povo não se pode servir dela quando precisa? Para que serve uma empresa que só dá prejuízo, não presta o serviço que deveria prestar e só existe para satisfazer os privilégios de quem lá trabalha? Não seria preferível fechá-la de uma vez, visto que o povo nada beneficia, mas pelo contrário, só tem prejuízo de milhões todos os meses?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Grécia – a crise e pessimismo trágico


A Grécia sempre na vanguarda
Aprendemos nos bancos da escola que a Grécia é o berço da Filosofia que deu origem à chamada Civilização Ocidental, baseada no conhecimento, na competência e no poder da razão, defensora do sucesso assente no mérito, no saber e na iniciativa privada. A História da Filosofia assinala um conjunto de filósofos gregos como os maiores vultos do pensamento que traçaram a matriz da nossa cultura.
Nunca fui à Grécia. Os livros referem um país montanhoso, pobre, com uma baixa percentagem de solo arável, de clima quente e seco ou temperado, próprio da região mediterrânica, com muito sol, mar e praias de sonho.
Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do séc. XIX (1844-1900), estudioso da cultura grega, considerava que os gregos eram infelizes e por isso criaram a mitologia e a arte trágica para aliviar a angústia da existência. Duvido muito. Não sei se os gregos se sentiam mais infelizes e angustiados do que os outros povos. Toda a humanidade, desde sempre, se questionou e se questiona pelo sentido da existência. Talvez os gregos sentissem esse problema com mais intensidade, nos primórdios da civilização, por viverem no “paraíso” mas se sentirem no “inferno” porque tinham e têm um clima excelente, um sol brilhante e esplendoroso, um céu limpo e infinito, numa terra rodeada de águas cristalinas, mas não tinham, ainda, sabedoria suficiente para explicar a natureza, esse mundo tão belo, nem conhecimento (científico) que permitisse curar as doenças e suavizar o sofrimento e a fragilidade humana. Como é que um ser fraco, doente (como o próprio Nietzsche) e de vida efémera poderia gozar os prazeres da vida e da natureza sempre bela e brilhante? À máxima luz e beleza exterior do clima grego, imensamente claro e radiante, opunha-se, no espírito, uma enorme escuridão interior de ignorância, de angústia e de impotência. (a primeira questão da filosofia grega foi, precisamente: “o que é isto, a natureza?” – “Τί εστί φύσεος;”)
Esta oposição entre a luz e as trevas, a felicidade e a angústia ou o bem-estar e o sofrimento é uma questão essencial da existência humana desde o tempo primordial bíblico dos “Génesis” que apresenta algum paralelismo na maneira de ser dos povos da região mediterrânica, mais alegre e permissiva mas desleixada e pobre, e na dos povos do norte da Europa mais sombria e triste mas também mais exigente, rigorosa e rica.
Os dados biográficos de Nietzsche dão-nos uma imagem semelhante: depois da morte do pai, aos cinco anos, Nietzsche passou a viver num ambiente marcadamente feminino na companhia da mãe, da irmã, da avó e três tias, rodeado de mimo (o sol radiante da infância, o aconchego do paraíso). O miúdo efeminado não ficou, com certeza, bem preparado para enfrentar, na vida adulta, a dureza dos problemas (o trabalho, a doença e a responsabilidade: os espinhos e abrolhos fora do paraíso), de forma viril. Muito menos para seguir a vida religiosa (pastor protestante), de acordo com os desejos de sua mãe. Sendo uma pessoa extremamente emotiva e dada à sensualidade, sentia, por outro lado, uma grande angústia (e infelicidade) por causa da saúde frágil, debilitada pela sífilis, que lhe causava muitos dissabores.
Hoje a Grécia é o protótipo da crise, tal como antes, o da civilização. Que diria Nietzsche hoje? Que o problema é a angústia da existência como na Antiguidade? Que a vida é um absurdo? Que é preciso restaurar o espírito da tragédia, como solução, apelando à arte apolínea e dionisíaca?
Não deixa de ser estranho que Nietzsche tenha encontrado a solução para essa angústia de existência, que era, segundo ele, a causa da crise social e cultural do seu tempo, na antiga Tragédia Grega de Ésquilo (525/524 a. C.-456/455 a. C.) e Sófocles (497/496 a. C.-406/405 a. C.), a mais de vinte séculos de distância. Não só não encontrou no seu tempo qualquer solução como ainda considerou que toda a cultura ocidental desde Sócrates (469-399 a. C.) e Platão (428/427-348/347) até então era negativa e decadente. Esta fuga para um passado longínquo, para alguns, uma marca do Romantismo, mais parece uma infantilidade, um sinal de alienação e de incapacidade em enfrentar os reais problemas da vida.
A crise actual é, apenas, uma simples questão de angústia de existência? Na minha opinião é, fundamentalmente, um problema moral e de valores. Não é um problema económico e financeiro. Nunca a humanidade teve tanta capacidade de produzir riqueza como hoje. Não será, afinal esta crise, o retrato fiel da vida e da filosofia de Nietzsche?
Longe de ser uma solução para a crise, a filosofia do pessimismo trágico, da embriaguez dionisíaca, da crítica à moral, da rejeição do Cristianismo, do irracionalismo, etc., não é antes a causa da crise, o reflexo do facilitismo, da impunidade, da corrupção e da imoralidade da generalidade dos cidadãos e de grande parte da classe política que tem marcado as grandes opções, as estratégias e os destinos dos povos nos últimos anos e nos colocaram no inferno?
Aquilo a que Nietzsche chama a embriaguez dionisíaca não é mais do que a apologia da alienação e da irresponsabilidade. Para Nietzsche a vida não tem qualquer sentido, é um completo absurdo. Nietzsche não reconhece valores, ideais ou razões que motivem e justifiquem a existência. “Melhor fora não ter nascido” – diz. Se a vida não tem explicação nem pode ser minimamente aceitável, qual é a atitude a tomar? Só pode ser, segundo ele a criação artística na perspectiva da música, a aceitação da vida pela óptica da arte, única forma de atingir a verdadeira realidade (a metafísica do artista). No fundo, Nietzsche concorda, em absoluto, com o que diz o povo: “Quem canta seus males espanta”. Se a tradição filosófica sempre definiu o ser humano como animal racional, Nietzsche despreza completamente a parte racional e valoriza, somente, a parte animal, o corpo, a sensibilidade, a estética. Por isso, tudo o que seja derivado da razão, como normas morais, prescrições, verticalidade, imposições, rigor, etc., é completamente rejeitado e considerado decadente, negativo, anti-valor, retrógrado, etc. Só o agradável é sinónimo de bom, tal como o sensível e, principalmente, o sensual e todo o encantamento provocado pela música, a música popular, que faça esquecer o horror, que é existir. Se a existência é um contínuo suplício é preciso suavizá-la com alguma doçura que esteja ao alcance do corpo e da sensibilidade. Esse bálsamo, segundo Nietzsche, está na arte trágica que resulta da interferência de duas forças instintivas opostas, simbolizadas pelas figuras míticas de Apolo e Dionísio. Só a arte trágica permite “dizer sim à vida” apesar do absurdo. Apolo é o deus das artes plásticas, das imagens belas, do sonho, da imaginação, da harmonia, etc., enquanto Dionísio é o deus da embriaguez, do desmedido, do caótico e do uno (do esquecimento de si). Nietzsche, dotado e apaixonado pela música, pela fantasia e pela arte, mas, ao mesmo tempo, aterrorizado pela vida porque só lhe dá angústia e sofrimento, só encontra uma solução: agarrar-se ao piano, tocar e cantar até ao delírio; beber, fumar e excitar-se para lá dos limites, até se esquecer que existe. Temos aqui uma imagem do alienado compulsivo, do existencialista primário, sem projectos e sem consciência para não sentir angústia.
Os “hippies” da década de 60 do séc. passado são a imagem de Nietzsche num contexto mais alegre e feliz. Enquanto Nietzsche vivia numa angústia atroz e implacável, minado pela sífilis, sem uma réstia de esperança, rejeitando tudo o que fosse produto da razão, os dionisíacos do séc. XX já sentem os efeitos da felicidade industrial, do poder e do conforto da tecnologia, da medicina, do desenvolvimento e da cultura de massas proporcionado pela Ciência que Nietzsche tanto abominava. Estes dionisíacos amadores do séc. XX sentiam-se uns felizardos, livres como pássaros fora da gaiola, adolescentes em férias, sem deveres, sem trabalho, sem horário, sem responsabilidades porque os pais lhes pagavam a mesada, a economia era próspera e havia quem produzisse para que eles gozassem e satisfizessem os apetites e os instintos, livres de todas as angústias, de doenças desconfortáveis e de outras situações resolvidas pela pílula e pelos contraceptivos.
Nos nossos dias já não temos os “hippies” ao sabor do vento, a defender o amor livre (make love, not war) no meio da selva, a protestar contra a guerra do Vietname, a deambular numa autocaravana de mil cores, sem destino, de cabelos compridos e barba desgrenhada, a cantar e a tocar viola. Em vez disso, temos os “hippies” refinados e profissionais com aparência de gente séria, que não têm só “um amor e uma cabana” mas se instalam em resorts de luxo ou condomínios bem fechados na companhia de beldades de eleição, em orgias delirantes e diabólicas. Nos intervalos, passada a ressaca, estes dionisíacos de pacotilha ocupam as cadeiras do poder, na política, na economia etc., e prometem o bem estar, o progressismo e a felicidade, mas só sabem criar a desordem, a crise e o caos. Continuam a ser como adolescentes em férias, ingénuos, e incompetentes que vivem como parasitas do povo a quem prometem a igualdade e a democracia sexual, como a coisa mais importante da vida, sob todas as formas, estilos e géneros, com um ar grave e sério, como quem comanda os supremos destinos dos povos de forma honesta, com direito a todas as mordomias e privilégios.
É este o retrato da generalidade da classe política europeia, sem princípios, sem projectos e sem responsabilidades, que não sabe o que é trabalho árduo, porque nunca fez nada na vida e passou todo o tempo, desde a adolescência, em jogos de política partidária, nos corredores do poder, aproveitando os intervalos das férias, das farras e das diversões. O importante é gozar, aproveitar a vida e nada de imposições, de normas, etc. o que interessa é em ganhar votos a todo o custo independentemente de se cumprirem ou não as promessas e de se terem ou não as contas em dia. O mundo atolado em dívidas é a imagem desta perspetiva irracional da existência. Quem vier depois que pague. É esta a classe política que tem conduzido os destinos dos povos, nas últimas décadas, para o descalabro. A Grécia é o protótipo deste caos político e económico, segundo os ecos que de lá vêm, onde a corrupção e a irresponsabilidade não têm limites. Parece-me o exemplo mais perfeito do existencialismo de Nietzsche. Os países mais pobres e sem recursos são as primeiras vítimas.
Estes “hippies” refinados já não precisam da arte apolíneo-dionisíaca para nada, de recorrer à imaginação, e às imagens belas. Eles têm acesso directo à imagem e ao corpo, ao delírio e à excitação sem limites. A angústia (qual angústia?) é para o povo que tem que suportar a enorme carga de impostos, a austeridade e a penúria provocadas pelo desmando e incompetência desta classe de agiotas, abutres e sanguessugas.
A matriz da racionalidade, da competência, do rigor e da exigência que estava na base da civilização ocidental, desde a antiguidade, deu lugar à matriz da irracionalidade, do instinto, da volúpia e da irresponsabilidade. Era, precisamente, esta a tese fundamental de Nietzsche: a causa da crise do seu tempo era a filosofia do racionalismo socrático-platónico que tinha dominado a cultura ocidental desde o séc. V a. C. sob a forma do “optimismo teórico”, “socratismo estético” ou “intelectualismo ético” que confiava na razão e no indivíduo (princípio da individuação) e criava a ilusão da felicidade. Daí a necessidade de instaurar o espírito da tragédia grega, a arte apolíneo-dionisíaca e a magia do instinto como uma pulsão natural libertadora.
Na senda do dionisíaco, o reino da formiga deu lugar ao da cigarra. Daí a situação existencial de crise, em que vivemos, marcada pelo desemprego, pela ausência de valores, pelo materialismo hedonista, pelo lucro fácil, pela recessão e pela falência diária de empresas. É o retrato fiel da embriaguez dionisíaca colectiva. A política e a economia europeias são a imagem destes “valores” dominantes: a velha Europa é como uma prostituta falida, em fim de carreira, usada, gasta, velha, vivida, infectada e sem poder de sedução, que quer continuar a dominar o prostíbulo à custa de grandes e avultados esforços de maquilhagem, do “milagre” da cosmética e de grandes operações plásticas. A sua improdutividade reflecte-se na ausência de futuro, na esterilidade das soluções e na impotência generalizada para renovar a vida, as instituições e a credibilidade. Neste circo de “Sexo, drogas e rock & rol” em que vivemos, as tentativas de reanimação, as grandes “injecções” dos milhões do FMI, do BCE e de outras entidades, supostamente poderosas, são como grandes doses de viagra que já não produzem efeito, devido à astenia generalizada, à desnutrição e à podridão que ameaça todo o organismo. Temos diante de nós a imagem de Nietzsche, no fim da vida, doente, fraco e demente, agarrado a um cavalo prostrado na rua, maltratado, moribundo e sem forças, incapaz de socorrer e de reanimar. Também, hoje, assistimos, hipocritamente, a grandes preocupações ambientais em cimeiras mundiais, jornadas e acções de defesa dos animais e das plantas, enquanto o ser humano é desprotegido desde o nascimento, nos seus direitos e na sua dignidade ao longo da sua existência.
Estamos a chegar ao verdadeiro niilismo, ao zero absoluto de tudo o que pode sustentar a vida. É necessária uma verdadeira Vontade de Poder. Está na hora de desencadear o Eterno Retorno para que uma nova civilização renasça, como Fénix, das cinzas do inferno em que temos vivido. Chegou a hora de governar o mundo com sabedoria, cultura, conhecimento e com ética que permita ao ser humano tomar consciência de que o Éden é impossível, mas desejável dentro dos nossos limites, mas onde sempre estará o fruto proibido.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Merkel, incrível!


Conta-se que, depois de uma noite de boémia, nas ruas de Lisboa, Bocage foi abordado, na penumbra da noite, por um suposto meliante que o interpelou de rompante: “quem és, donde vens e para onde vais?”. Bocage respondeu prontamente: “Sou Bocage, venho do Nicola, vou para o outro mundo se disparas a pistola”. Não sei se há meliantes destes ao virar da esquina, numa rua de Berlim. Se houver não sei o que será da senhora Angela Merkel. Provavelmente não saberá responder e poderemos colocar várias hipóteses sobre o que fará o suposto meliante.
Saber localizar num mapa a capital do seu próprio país é o que se exige, hoje a qualquer cidadão, seja de que país for. Ninguém é obrigado a saber. E ninguém ficaria espantado se isso acontecesse com um vulgar cidadão, analfabeto e incógnito. E se acontecesse com um professor? Um autarca? Um primeiro-ministro? Uma chanceler?
Na minha terra sempre se considerou que, se alguém não sabe de que terra é, isso significa o maior grau de ignorância que é possível admitir. É qualquer coisa que não se admite nem ao maior analfabeto. Toda a gente sabe ou deve saber de que terra é e onde fica situada. Se não sabe, isso significa uma total desorientação, que não sabe o que anda a fazer no mundo, que não tem projectos e que não faz distinção entre passado, presente e futuro.
Causa-me enorme espanto que a senhora Angela Merkel coloque Berlim, a capital do seu país, em território russo. Se não revela competências básicas como esta, o que acontecerá com as competências fundamentais que se exigem a quem comanda os destinos de um dos países mais poderosos da Europa e do mundo? Não será por isso que estamos todos em crise?

terça-feira, 24 de abril de 2012

O “25 de Abril” acabou


Aqueles que se consideravam donos do 25 de Abril já atiraram a toalha ao chão, desistiram, negaram-se a continuar. São a prova de que dos fracos não reza a História e que o que fizeram foi um engano, um erro e um gesto puramente privado, em benefício próprio, sem valor patriótico. Onde estão os “chamados ideais de Abril?” onde estão as “conquistas de Abril?” Como é possível que os protagonistas deste acto heroico não acreditem no que fizeram?
Que ideais eram esses que depressa se apagaram? Que conquistas foram essas que depressa se perderam? Que feitos heroicos ficarão para as gerações futuras se os seus autores os desprezaram? Agora que esvaziaram os cofres de ouro, a pesada herança, e surgiram as dificuldades, desertam como traidores?
Que democratas são estes, cheios de privilégios e mordomias à custa do povo que foi enganado, traído e abandonado e que deixaram na miséria? Onde está a prometida igualdade, o pão, a paz, a saúde e a educação?
Há quem queira acabar com feriados para vencer a crise, por que não acabar já com o 25 de Abril se os seus promotores directos já não lhe dão valor nenhum, as eleições são sempre uma vitória da abstenção e a classe política, incompetente, explora o povo mais do que nunca?

domingo, 1 de abril de 2012

Em causa o presidente do STJ


Parecer do CSMP sobre o exercício da Justiça em Portugal
O Conselho Superior do Ministério Público, reunido extraordinariamente, emitiu um parecer sobre o combate ao crime e o exercício da Justiça em Portugal no sentido de se proceder a uma mudança significativa em todas as instâncias judiciais, através de providências legislativas de modo a obter uma maior eficiência da Justiça. Refere o CSMP, em nota publicada hoje na imprensa, que a situação grave em que vivemos actualmente configura um verdadeiro estado de sítio e de calamidade pública pelo que a Justiça não pode continuar alheia aos graves problemas que afectam os cidadãos portugueses. Entre as providências legislativas de maior relevo está a alteração aos estatutos e competência do presidente do Supremo tribunal de Justiça cujas decisões, em matéria de fiscalização dos procuradores do ministério público a nível nacional, deveriam ser escrutinadas por um órgão colegial para afastar alegadas tendências de parcialidade e favorecimento.
Também a ordem dos advogados emitiu um parecer no sentido de se apurar a legalidade e a competência do presidente do Supremo Tribunal quando estão em causa investigações que impliquem figuras de relevo de órgãos de soberania como foi o caso do alegado atentado contra o estado de direito, atribuído pelo ministério público, ao primeiro ministro cessante em cujo processo foi ordenado que se destruíssem meios importantes de prova, legalmente autorizados.

terça-feira, 6 de março de 2012

Aborto pós parto?

E esta? “Matar um recém-nascido é um acto moralmente idêntico a praticar um aborto”, nos casos em que o aborto é legal, segundo o artigo de Francesca Minerva, formada em Filosofia pela Universidade de Pisa (Itália) com uma dissertação sobre Bioética no Journal of Medical Ethics. Seria caso para dizermos que “isto nem lembra ao diabo”, mas não é bem assim, é uma questão muito antiga. Se o argumento é porque um recém-nascido não tem consciência de que existe bem poderíamos aplicar a receita a inúmeras situações com toda a propriedade. A começar por certos políticos que não têm consciência de nada, nem do que são, nem do que fazem. São uns autênticos abortos vivos. Grande parte da classe política que nos tem governado há algumas décadas seria completamente eliminada, em cerca de 90%. Que grande limpeza!
A seguir viriam todos os magistrados que não fazem nada, que não fazem andar a justiça, que só parasitam o povo, que destroem o país, que mandam destruir escutas legalmente autorizadas, enfim, que ocupam um cargo só para seu bem pessoal e egoísta. Mais uma grande limpeza!
Este argumento a favor dos abortos pós parto refere ainda que além de falta de consciência do recém nascido, este não tem ainda projectos de vida, sonhos e esperanças para o futuro e por isso, poderia ser eliminado sem problemas. E os deficientes mentais têm alguma consciência, algum projecto, algum sonho? Seria um enorme alívio para todas as pessoas que se sacrificam a tratar deles, todos os dias, além de se poder reduzir enormemente o orçamento e a dívida pública. Mais uma limpeza!
Mas se os deficientes não sabem que existem e não têm projectos, que dizer daqueles que têm maus projectos de vida: os toxicodependentes, cleptomaníacos e os criminosos em geral? Um toxicodependente é um alienado compulsivo, passa cerca de 90% da sua vida sem saber quem é, não tem projectos ou se os tem não tem capacidade de os concretizar, os criminosos em geral roubam, matam e destroem vidas com projectos bem delineados e por isso haverá razões mais que suficientes para os considerar inúteis e prejudiciais, como tal, deveriam ser abortados. Para quê estar a gastar dinheiro com eles em recuperação e em prisões, com vista a uma integração social? Mais uma grande limpeza!
Os velhos, que já perderam a memória, que já não sabem o que estão a fazer no mundo, seriam também eliminados com o aborto pós parto, como um produto que já está fora do prazo de validade. Que alívio não seria para todos os lares de terceira idade, centros de dia e asilos do país? Que grande limpeza!
Não sei se restaria alguém que não tivesse sido já apanhado pelo aborto pós parto. Um mundo sem crianças não teria sentido, nem futuro, por isso, seria preferível aplicar o aborto a toda a gente. Seria uma forma de acabar com o mundo de forma consciente, segundo um projecto, obedecendo a um sonho, talvez, debaixo dos torrões!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Alertas da hipocrisia progressista

O líder do principal partido da oposição lembrou-se de descer ao povoado para observar aquilo que já, há muito, está visto: “o interior está a morrer e é preciso tomar medidas para que isso não aconteça” – disse. É preciso sair de Lisboa, do conforto do gabinete, para constatar uma coisa destas?
Não é só o interior que está a morrer, é o país inteiro! Quem é que pôs o país a morrer, senhor líder do PS? Quem é que pôs a lei da morte por cima da lei da vida, em Portugal? O senhor já não se lembra? Quem é que aprovou a lei do aborto, em Portugal? Que razões tem o senhor, agora, para se queixar? Esse pretenso sinal de alerta e de revolta não passa de um estrondoso gesto de comovida ingenuidade e da mais vil hipocrisia. Aborto não é o mesmo que morte?
Se reparou, também, nas paisagens do nosso lindo, mas desgraçado país, os pinhais estão a morrer com o nemátodo. O aborto faz, precisamente, o mesmo efeito. Uma criança que não nasce não vai precisar da madeira de pinho para lhe fazer o berço, os móveis do quarto, da cozinha, da sala, etc., nem mesmo, das tábuas para o caixão! O aborto é como o nemátodo do pinheiro: mata tudo à volta.
Para quê construir túneis do Marão, estradas, auto estradas, manter fábricas abertas e serviços públicos? Para as moscas? Só para dar emprego aos que ainda não se reformaram ou não apanharam o nemátodo para serem cortados à vida?


Para a próxima vez não se queixe de que o país está a morrer, não atire as culpas para cima dos outros, faça um “mea culpa” e veja que o Partido Socialista é o principal responsável por esta calamidade. O nemátodo apareceu contra a nossa vontade, ninguém, que se saiba, introduziu tal peste nos nossos pinheiros e o governo, logo, tratou de pôr em prática medidas para a eliminar. Mas com o aborto tudo foi diferente: foi o governo, a entidade soberana do país que introduziu esta calamidade no meio de nós, de forma voluntária, deliberada e oficial. Não foi um criminoso, pela calada da noite. Foi o governo do Partido Socialista. Se o nemátodo tivesse sido introduzido por algum criminoso, o governo faria tudo para o prender e castigar. O nemátodo mata apenas árvores. O aborto mata pessoas que precisam das árvores, das casas, das fábricas, etc. se não houver pessoas, ninguém vai precisar das árvores, das casas, das fábricas, etc., porque o mais importante do mundo são as crianças, as pessoas, os seres humanos. Este é um crime muito maior do que matar apenas árvores e ninguém se lembrou de pôr os autores deste hediondo crime atrás das grades. E ainda o defenderam como um sinal de progressismo e de modernidade.
Toda a gente condenou o holocausto nazi do séc. XX associado ao ódio e à cruel matança dos inocentes. Hoje assistimos a um novo holocausto, a um novo ódio e a uma nova matança de inocentes, tudo aprovado “democrática e oficialmente” por novos “Hitlers”, mascarados de gente honesta. Senhor líder do Partido Socialista, não critique, não reclame, não se queixe, fique caladinho, não diga nada, porque se o país está a morrer – o que o senhor não quer aceitar – quem decretou a morte foi o governo do seu partido que o senhor apoiou e apoia, o senhor é co-responsável por isso. Se o aborto é o crime que está a matar o país não é difícil encontrar os culpados. Enquanto não for revogada esta lei que manda matar não é possível ter esperança num futuro melhor.