domingo, 24 de janeiro de 2010

Professores

Que dignidade?
A educação e os professores têm sido os assuntos mais falados na actualidade. Discutem-se agora, também, os horários dos professores. Para certas pessoas os professores não fazem nada, outros consideram que trabalham adequadamente, outros, ainda, reconhecem que têm uma sobrecarga de trabalho.
O trabalho do professor não se confina à sala de aula. Em geral, fora da aula os professores têm o dobro ou o triplo do trabalho: preparar aulas, corrigir testes e trabalhos de casa, elaborar planificações, investigar e actualizar-se, direcção de turma e muitas outras tarefas burocráticas que impedem, por vezes, o apoio à própria família.
Nem tudo é comparável, tal como os dedos de uma mão, cada um com a sua função. Não será fácil comparar o trabalho de um professor, por exemplo, com o de um vereador municipal, de um médico ou de um deputado.
Foi notícia há algum tempo, a situação de um vereador da Câmara Municipal de Lisboa que tinha uns dez assessores ou mais. Actualmente cada vereador tem direito a cinco ou seis. Dá a impressão de que quem decide e quem trabalha não é o vereador mas sim os assessores. Não sei quanto ganha um vereador nem que horário de trabalho semanal tem que cumprir. Ora, os professores não têm assessores nem assistentes e o trabalho é cada vez mais exigente.
O trabalho do médico e do professor também não é fácil de comparar. Poderíamos considerar, apesar de tudo, algo em comum: o professor pretende “curar uma doença” universal – a ignorância – já que a cultura não se transmite hereditariamente. Divergindo nas metodologias e nas estratégias um professor também tem que fazer diagnósticos e avaliações, testes, exames complementares de diagnóstico e provas de recuperação. E se um professor exigisse, por um teste ou por um exame, tanto quanto um médico cobra por uma operação às cataratas, ao coração ou ao menisco? Há, da parte do professor, todo um processo exigente de elaboração de uma matriz, da formulação do exame e da correcção da prova que é considerado como parte integrante da sua actividade normal e não como trabalho suplementar.
Desde Abril de 1974 os deputados da Assembleia da República tinham direito a uma reforma vitalícia ao fim de oito anos. Sabemos que essa prorrogativa já foi revogada mas continuam a usufruir de um leque de privilégios muito superior ao dos professores que deveriam ser mais dignificados já que são eles que constroem, verdadeiramente, o país, transmitindo a cultura às novas gerações.
Hoje, mais do que nunca, ser professor é uma actividade de desgaste rápido. Em muitas situações têm de desempenhar as funções de pai, de mãe, de psicólogo, de psiquiatra, de polícia, de bombeiro, de soldado, etc. Toda a formação do cidadão é encargo natural dos professores. Se se nota uma lacuna nesta ou naquela área, a expressão mais ouvida é: “isso devia ser ensinado na escola”. O trabalho dos professores devia ser cada vez mais acarinhado, reconhecido e defendido. Uma escola pode servir para muitas gerações, não precisamos de construir uma todos os anos, mas cada nova geração que nasce é sempre um mundo novo a construir, no campo do conhecimento e da cultura. O edifico da cultura nunca está terminado, recomeça sempre que nasce uma criança.
Agostinho da Silva dizia que, hoje, as crianças nascem reformadas. O mundo está feito: estradas, casas, escolas, etc. Mas a cultura é uma tarefa que está sempre por fazer. Quando não houver mais nada para fazer, no mundo, haverá sempre bocas com fome para alimentar e mentes incultas para cultivar. A actividade docente é fundamental e é uma primeira prioridade que exige condições para ser exercida. Agostinho da Silva referia, também, que as condições do sucesso da educação são os três SSS: Saúde, Sustento e Segurança. Sob este ponto de vista não me parece que estejamos no caminho certo.

Os advogados e os médicos

Privilégios



O senhor bastonário da Ordem dos Advogados criticou, fortemente, o poder político, os “sucessivos Governos e as sucessivas direcções da Ordem dos Advogados perante a proliferação escandalosa de cursos de Direito em Portugal”, na sessão de abertura do I Encontro Nacional de Jovens Advogados.
Uma crítica, assim, parece significar uma enorme calamidade. Uma pandemia de advogados seria qualquer coisa funesta e, claramente, indesejável. Uma “proliferação escandalosa de cursos de Direito” e, consequentemente, de advogados constituiria uma praga que deveria, a todo o custo, ser evitada.
Também, há poucos dias, o senhor bastonário da Ordem dos Médicos apresentou um discurso semelhante, manifestando o receio de não haver trabalho para todos os médicos, dentro de alguns anos, devido à entrada de grande número de estudantes em Medicina, a somar aos que estudam fora de Portugal, o que poderá pôr em causa os “padrões de qualidade e de ética”.
Aprendemos que, na Idade Média, o clero e a nobreza eram classes cheias de privilégios que possuíam grande parte das terras do país (os coutos e as honras) onde o povo, mais numeroso, a arraia-miúda, trabalhava, servilmente, sob a forma de escravatura, para sustentar a riqueza dos seus senhores. Hoje, a mentalidade destes senhores que mandam nos advogados e nos médicos parece não estar muito longe da Idade Média. Os franceses tomaram a Bastilha, em 1789, para proclamar a liberdade, a igualdade e a fraternidade, mas, no início do século XXI, em Portugal, parece haver quem continue a defender a exploração, a subserviência e a desigualdade.
Quem tem o direito de proibir, impedir ou limitar quem quer que seja?
O agricultor, na natureza selvagem, tem que arrancar as ervas daninhas, afastar os animais que destroem as culturas e impedir o acesso a intrusos que lhe possam subtrair as colheitas que são o fruto do seu penoso trabalho. Nem Cristo, que é Deus, defendeu que se arrancasse o joio a não ser na altura da ceifa para ser atado e queimado enquanto se separava e guardava a boa semente no celeiro. Na sementeira humana quem tem o direito de controlar ou condicionar as justas opções vocacionais e laborais que sustentam a vida e dignificam a existência? Qualquer actividade, desde que não seja criminosa e/ou prejudicial, deve ser legítima e permitida. Nesta sementeira, os médicos e os advogados julgam-se superiores a Deus?
O excesso de médicos e de advogados é um mal, em si? Quantas profissões, equiparadas aos médicos, têm, actualmente, excesso de candidatos face às ofertas de emprego existentes?
Que culpa têm os jovens advogados de terem inventado o Processo de Bolonha? Este processo é válido ou não para todo o espaço europeu?
Se o senhor bastonário da Ordem dos Advogados teme a baixa qualidade dos advogados, no futuro, que dizer dos advogados de hoje, supostamente os melhores, que não resolvem os mais famosos e mediáticos casos da Justiça portuguesa? Afinal, para quê tantos receios se com os actuais ou os futuros advogados, a justiça continuará inoperante?
O excesso de médicos pode pôr em perigo os seus padrões de qualidade? Ou não será o contrário? E os padrões éticos? Quer sejam muitos ou poucos, os médicos não têm que fazer, todos, o juramento de Hipócrates? Será que a quantidade dilui a deontologia profissional?
Estes receios existem porque não há harmonia social. A corrupção, a paralisia da Justiça e a falta de ética social são, a meu ver, as causas de todos os desequilíbrios sociais e do desemprego. É preciso competência política de quem governa, exigência, rigor e força de vontade. A justiça e a ética devem começar na política. O exemplo tem que vir de cima.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Progressismo? III

Ou regressismo?
Toda a actividade política deste governo é como um balão que se encheu, deu nas vistas, e ao voar ou rebolar pelo chão, encontra um bico que provoca o seu esvaziamento. O problema é que o país não é o circo e quem sofre com tudo isto são os portugueses. Já me referi a este assunto e hoje voltamos a verificar um volte face, neste caso, em relação à justiça, depois de já termos assistido à alteração do estatuto da carreira docente e do modelo de avaliação dos professores, decisões que no ano passado constituíram um forte braço de ferro com a ministra da educação de triste memória.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Casamento homossexual

A homossexualidade e o lince ibérico

O casamento homossexual é uma questão inútil e altamente prejudicial numa altura em que há problemas graves e urgentes para resolver. É um falso problema, uma barbaridade e algo sem sentido. Se a Bíblia refere as cidades de Sodoma e Gomorra como o cúmulo da perversidade que levou à sua destruição através de chamas de enxofre devemos atribuir esta situação de perversão ao atraso cultural e civilizacional dos povos dessa época. Era uma espécie de barbárie e de estado selvagem. No século XXI, depois de tão grande evolução científica, tecnológica e cultural, quando a inteligência mundial emenda o passo em relação a determinadas práticas e modos de vida de destruição humana e ambiental, enveredando por um regresso à natureza, o casamento homossexual não pode deixar de ser visto como um atentado à dignidade humana e aos valores fundamentais da ecologia humana no sentido moral e natural.
A reivindicação do casamento homossexual, nos dias de hoje, em que o verdadeiro casamento (heterossexual) vale menos do que um mero contrato de trabalho a prazo, só demonstra que os próprios têm consciência de que o que pretendem é um absurdo. Porque é que, em geral, os casais heterossexuais, hoje, só se juntam, despreocupadamente, sem exigir um papel assinado e os homossexuais sentem-se traumatizados se não lhes dão esse papel? O mundo está totalmente virado do avesso. Um governo que dá relevância e prioridade a uma questão destas mostra bem o nível e a competência que tem. Este governo não tem mais nada que fazer? Admite-se que, num navio a afundar-se, o piloto se entretenha em orgias e convide os passageiros para práticas obscenas, em vez de se preocupar em reparar os estragos e levar o barco a bom porto? Ou será que se sente perdido e quer levar toda a gente para o fundo mar?
Não há no PS ninguém que tenha o mínimo de bom senso, uma pontinha de juízo? É urgente decapitar este governo. Parece-me bem que o “cabecilha” age, nitidamente, com essa intenção.
Admitindo este absurdo, se o casamento homossexual for considerado normal, porque não aceitar que se façam casamentos com animais. Não há muita gente que tem animais de companhia que trata como se fossem elementos do agregado familiar com os quais partilha alegrias e tristezas, comunica (fala) mais facilmente do que com as pessoas e aos quais faz, muitas vezes, testamentos escandalosos e que depois manda enterrar em luxuosos cemitérios só para animais? Se alguém exigisse o direito ao casamento com um cão ou cadela, gato ou gata, cavalo ou égua quem poderia impedir? Seria absurdo? Para essas pessoas com certeza que não.
Não será o casamento homossexual uma espécie de ligação de alguém com o seu animal de estimação? Poder-se-á comparar o envolvimento afectivo e emocional do verdadeiro casamento com o simples prazer de ter ali o seu animal de estimação? Se são possíveis formas de protecção social e de exercício de determinados direitos em relação aos animais de estimação para quê exigir o casamento para que alguém possa herdar a casa onde habita?
Que temos todos nós (Estado) a ver com a vida privada de quem quer que seja? Se dois homossexuais gostam um do outro, que temos nós (Estado) a ver com isso? É preciso um papel registado a atestar que gostam? Os próprios não acreditam?
Nesta ordem de ideias por que não admitir a poligamia? Por que não permitir que um homem se case com quantas mulheres quiser e vice-versa?
O casamento homossexual é uma intromissão ilegítima e ofensiva na estrutura e na natureza do verdadeiro casamento. Chamar casamento a uma coabitação entre duas pessoas do mesmo sexo é um atentado à cultura e à dignidade de toda a humanidade.
Toda a actividade humana obedece a regras que têm como finalidade a harmonia social e a sustentabilidade. É absurdo que se queira excluir as relações humanas familiares de qualquer tipo de regra. Defender a homossexualidade é como pretender andar em contra mão na auto-estrada ou querer que o Big Bang volte para trás. Esta metáfora resume todo este absurdo. Como podemos considerar igual, aquilo que é desigual? É legítimo defender o caos total e a anarquia nas relações humanas familiares?
A difusão desta perversidade no mundo ocidental está a transformar o mundo moderno numa nova Sodoma e Gomorra onde não só certas espécies naturais se encontram em vias de extinção mas também a própria humanidade. Diz o povo que “De Espanha, nem bom vento nem bom casamento”. Sendo o chefe do nosso governo um adepto do modelo de casamento já aprovado em Espanha, qualquer dia não será só o lince ibérico que se encontrará em vias de extinção mas toda a população humana da península.
É curioso que o Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico criado, recentemente, em Silves para impedir a extinção desta espécie não tenha casais de linces homossexuais. Porque será?