quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Nova Carta aberta ao P da República 18-9-2019


Carta aberta ao presidente da República
O cartel da promiscuidade na campanha eleitoral
Exmo. Senhor, Professor Dr. Marcelo Rebelo de Sousa
Há bastante tempo que não dirijo uma carta para V. Exa. o que não significa que não tenha tido motivos para isso. De facto, V. Exa. nunca me respondeu e atendeu às minhas solicitações. Sinto-me, por isso, na expectativa de que mais uma vez serei votado ao desprezo. Apesar de tudo, não quero calar a minha indignação perante a anarquia, o oportunismo e o desrespeito pelas mais elementares regras de um Estado de Direito democrático.
Já por diversas vezes, em missivas anteriores, pedi a V. Exa. que demitisse este governo e apresentei razões fortes para isso. Cheguei à conclusão que deveria ter pedido que V. Exa. se demitisse, também, porque tem sido um poder negativo, uma simples figura ornamental.
Aproxima-se o dia das eleições e o primeiro ministro já anda em campanha eleitoral há n tempo com direito de antena diário em todos os canais de televisão e de rádio, de forma prepotente, como se não houvesse mais candidatos. A comunicação social já o coroou de glória declarando-o como vencedor das eleições com mais de um mês de antecedência. Era o que se dizia sobre o anterior regime: Salazar ganhava sempre, antecipadamente.
V. Exa., como presidente da República não tem nada a dizer sobre este escândalo de favorecimento e de promiscuidade entre a comunicação social e o poder político? Se o presidente da República deve fazer cumprir a Constituição e deve garantir o funcionamento regular das instituições não encontra nada de estranho e de irregularmente grave em toda esta pré-campanha eleitoral? Para que serve a Constituição, a lei eleitoral, a Entidade que regula a Comunicação Social, a Comissão Nacional de Eleições, etc.?
As leis não estão a ser cumpridas e as entidades que deveriam agir permanecem mudas e caladas. E V. Exa. desapareceu do mapa?
A Constituição da República Portuguesa afirma, no art.º 113.º, n.º 3, o seguinte:
As campanhas eleitorais regem-se pelos seguintes princípios:
a) Liberdade de propaganda;
b) Igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas;
c) Imparcialidade das entidades públicas perante as candidaturas;
d) Transparência e fiscalização das contas eleitorais
V. Exa. considera que a Constituição tem sido cumprida em todas estas alíneas?
Quanto à alínea a) Liberdade de propaganda – só existe liberdade, real, de propaganda se os meios forem iguais para todos? Quem é que pode garantir que o Dr. António Costa, como líder partidário, se serve só do património pessoal ou do partido para fazer campanha e aparecer todos os dias na televisão? Quem é que pode atestar que não estão a ser usados meios do Estado para favorecer uma campanha partidária? Quem pode garantir a liberdade de propaganda se todos os partidos concorrentes não têm acesso aos meios de comunicação social?
Estas questões remetem-nos já para a alínea d) Transparência e fiscalização das contas eleitorais – quem é que fiscaliza todas as despesas de pré-campanha do secretário geral do PS? Quem paga todas as despesas de campanha do PS e dos outros partidos que aparecem todos os dias na televisão?
Quanto à alínea b) Igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas – salta à vista de todos que não está a ser cumprida. A comunicação social, particularmente os canais de televisão, só tem apresentado propaganda e debates de alguns partidos, os que já ocupam os órgãos de soberania. Mas como diz a lei, todos devem ter igualdade de oportunidades. Há uma lista enorme de partidos concorrentes às próximas eleições de 6 de Outubro mas a comunicação social não lhe dá voz, os portugueses não têm acesso à informação a que têm direito e por isso estão limitados na sua liberdade.
A alínea c) também não está a ser cumprida. Não há imparcialidade das entidades públicas e das instituições perante os candidatos que se apresentam a sufrágio no dia 6 de Outubro. V. Exa., senhor presidente da República, não toma nenhuma atitude perante tudo isto?
A campanha eleitoral nem sequer começou, a pré-campanha não está regulamentada e, por isso, não deveria existir ou, existindo, deveria ser alargada a todos os partidos. Não há aqui uma enorme injustiça?
Há dias, no princípio deste mês de Setembro de 2019, os bancos, que exercem actividades em Portugal, foram alvo de uma coima no valor de 225 milhões de euros por terem trocado informações entre si, prejudicando os clientes e consumidores. Afinal não temos só o cartel da banca. Temos o cartel da comunicação social, dos canais de televisão, que no dia 16 de Setembro transmitiram em simultâneo e em directo, o debate frente a frente entre António Costa e Rui Rio. Quem é que podem autuar este cartel tão perigoso para a democracia e para a liberdade de todos os cidadãos? Que poder, que autoridade tem o presidente da República se não fizer nada contra este cartel que destrói toda a liberdade e uma réstia de democracia que possa existir?
Os portugueses estão a ser prejudicados por vários cartéis e, os órgãos de soberania, a começar pelo presidente da República, parecem alheios a todos estes enormes obstáculos à liberdade, à dignidade e aos mais elementares direitos de um Estado de Direito democrático.
Surgiram, recentemente, notícias de que o programa “Sexta às 9” da RTP1 foi silenciado. Será verdade? Se for verdade, não estamos perante um verdadeiro caso de censura? Outros casos de jornalistas da TVI terão sido alvo de repressão semelhante. É preciso investigar e apurar tudo isto. Um Estado de Direito democrático não deve defender a transparência, custe o que custar? Afinal, quem pode garantir a liberdade tantas vezes prometida?
Voltando a um tema abordado por mim anteriormente e que continua a destruir o país, V. Exa. não tem nada a dizer sobre aquilo que parece mais um enorme cartel – o cartel do fogo? Salta à vista de todos que a maior parte dos fogos é de origem criminosa, começam de madrugada e consomem sempre enormes áreas e muitas pessoas ficam na ruina. Continuamos à espera das conclusões – “É preciso apurar tudo até ao fim”. Se a praga dos incêndios continua, o que falta ainda apurar, senhor presidente?
Apresento a V. Exa. os meus melhores cumprimentos.
António de Jesus Oliveira
18-9-2019