Conta-se que, depois de uma
noite de boémia, nas ruas de Lisboa, Bocage foi abordado, na penumbra da noite,
por um suposto meliante que o interpelou de rompante: “quem és, donde vens e
para onde vais?”. Bocage respondeu prontamente: “Sou Bocage, venho do Nicola,
vou para o outro mundo se disparas a pistola”. Não sei se há meliantes destes
ao virar da esquina, numa rua de Berlim. Se houver não sei o que será da
senhora Angela Merkel. Provavelmente não saberá responder e poderemos colocar
várias hipóteses sobre o que fará o suposto meliante.
Saber localizar num mapa a capital do seu próprio país é o que se exige, hoje a qualquer cidadão, seja de
que país for. Ninguém é obrigado a saber. E ninguém ficaria espantado se isso
acontecesse com um vulgar cidadão, analfabeto e incógnito. E se acontecesse com
um professor? Um autarca? Um primeiro-ministro? Uma chanceler?
Na minha terra sempre se
considerou que, se alguém não sabe de que terra é, isso significa o maior grau de
ignorância que é possível admitir. É qualquer coisa que não se admite nem ao
maior analfabeto. Toda a gente sabe ou deve saber de que terra é e onde fica
situada. Se não sabe, isso significa uma total desorientação, que não sabe o
que anda a fazer no mundo, que não tem projectos e que não faz distinção entre
passado, presente e futuro.
Causa-me
enorme espanto que a senhora Angela Merkel coloque Berlim, a capital do seu
país, em território russo. Se não revela competências básicas como esta, o que
acontecerá com as competências fundamentais que se exigem a quem comanda os
destinos de um dos países mais poderosos da Europa e do mundo? Não será por
isso que estamos todos em crise?