Camões propôs-se cantar, em “Os
Lusíadas” os heróis da pátria designando-os como “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”.
Se Luís de Camões vivesse hoje não teria, com certeza, heróis que merecessem
tão ilustre poema. Pelo contrário os heróis de hoje, os donos do poder, os
anti-heróis, são aqueles que, por obras execráveis se vão da lei da vida
libertando, colocando todos os portugueses na mesma situação.
Diz a sabedoria popular: “vamos à
vida que a morte é certa”. Ninguém, no seu perfeito juízo, deseja morrer e só espera
que isso aconteça ao fim de uma longa vida. Mas em Portugal, apesar de toda a
gente saber que a morte é certa, esta verdade absolutamente inquestionável,
ainda assim, foi escrita, reforçada e aprovada, ao mais alto nível do poder,
como uma lei fundamental que deve vigorar em todo o país. Como é que um governo
que aposta na morte, apoia a morte e financia a morte, pretende que haja vida,
haja futuro e prosperidade? Ou o governo governa para a vida ou governa para a
morte, não pode governar para as duas coisas. Como é que um agricultor pode
colher bons frutos se destruir a sementeira pouco depois de lançar a semente à
terra?
Estamos perante uma lei
inconstitucional porque todos têm direito à vida e pelo mesmo motivo esta lei é
contra a declaração universal dos direitos do homem e contra o direito natural.
Mas o absurdo desta morte
oficializada é que se pratica mesmo antes do nascimento. Estamos perante um enorme
genocídio, uma matança de inocentes que configura um cenário de guerra em que
se mata “por amor”, o que se torna ainda mais absurdo. O estado de calamidade
em que se encontra o país e grande parte da europa e do mundo, que tem apostado
nesta linha da morte, reflecte-se no caos, no desemprego, nas falências, na
miséria e na fome. Aparentemente a vida corre o seu curso normal: a terra gira e
dá lugar aos dias e às noites. As ruas, as praças, as casas e os campos parecem
continuar nos seus lugares, mas por detrás destas aparências o mundo está em
destroços e virado do avesso. As vítimas do genocídio clamam por justiça. Os gritos
de revolta contra a fome e a miséria só demonstram que a guerra não está ganha
e que os vencidos serão, no fim, vencedores.
A evolução tecnológica, cultural e
científica que deveria permitir uma vida tranquila, farta e feliz não resolve,
afinal, nenhum dos nossos problemas. Nunca a humanidade teve tanta capacidade
de produzir riqueza como hoje, mas vivemos na miséria. Os gritos de revolta, as
manifestações e as discussões ao nível do poder político só revelam o estado desta
doença epidémica que alastra e contamina toda a sociedade. Se tudo estivesse
nos seus lugares veríamos os médicos sem muito trabalho, sinal de que toda a
gente era saudável, os advogados sem expediente, os bombeiros ociosos, os polícias
folgados, etc. e por outro lado, veríamos todos os campos cultivados, as fábricas
cheias de trabalho e as escolas repletas de alunos e professores. Mas,
infelizmente o que observamos são as clínicas de aborto com as portas abertas para
a morte, as maternidades encerradas, as estradas e auto estradas sem veículos,
os cafés e restaurantes sem clientes e as fábricas
na falência, em ruínas e os trabalhadores sem trabalho e a passar fome.
Ninguém pode matar uma águia
peneireira, um lince da Malcata, cortar um ramo de sobreiro ou de carrasqueiro,
ninguém pode derramar lixo poluente na água ou no solo ou destruir um ninho de
perdiz, ninguém pode fazer nenhuma destas coisas porque será castigado por
estar a destruir o ambiente, mas uma mulher pode, livremente, matar um filho. E
se o fizer, não recebe qualquer castigo, mas pelo contrário, terá todo o apoio
do estado. Enquanto o estado desvia dinheiro para pagar o aborto,
silenciosamente, falta-lhe dinheiro para pagar aos seus funcionários,
retira-lhes os subsídios de férias e de Natal, corta-lhes os vencimentos e
pensões, despede
quem precisa de trabalhar e sobrecarrega com impostos os que ainda resistem,
tornando a vida insustentável.
Vivemos hoje num mundo impróprio
para cardíacos mas, num cenário destes, não haverá ninguém que não sofra do
coração, a não ser que tenha um coração de pedra.
Por mais medidas de austeridade que
se tomem, por mais contas de matemática que se façam, por mais revoltas e
manifestações que saiam à rua, por mais lutas sindicais que se desenvolvam para
diminuir o défice e para resolver a crise, tudo
será em vão enquanto o défice da vida for maior do que o da morte.
Num país em que grande parte do orçamento serve
para financiar a morte, em que parte da medicina está ao serviço da morte em
vez de estar ao serviço da vida, em que as empresas e as pessoas estão
asfixiadas por todo o tipo de impostos, taxas e portagens como é possível
sobreviver?