É curioso e até um pouco estranho
que o sindicato dos comunistas portugueses, a CGTP, teime em fazer uma
manifestação na ponte Salazar, entretanto usurpada, ilegitimamente, depois de
1974 e rebaptizada de ponte 25 de Abril. Toda a gente, de bom senso, sabe que
não é aconselhável uma manifestação naquele sítio e que uma manifestação política
não é a mesma coisa que uma corrida de atletismo ou uma procissão religiosa. Os
participantes não são seleccionados como numa corrida e a fé dos “crentes” pode
manifestar-se de forma imprevista e violenta. Gritar por gritar, pode fazer-se
em qualquer sítio, mas em cima de uma ponte, mais depressa as palavras serão
levadas pelo vento e não chegarão com a mesma eficácia aos verdadeiros
destinatários. Gritar de cima de uma ponte não terá o mesmo efeito que gritar
aos ouvidos do governo, ali bem junto do Terreiro do Paço ou em S. Bento. E teimar
que seja em cima de uma ponte já mais parece uma birra de criança ou de
adolescente mal amada que anseia por um “fait divers” e nada
mais. Usar hoje o slogan “Pontes por
Abril” já soa mais a saudosismo nostálgico sem repercussões, sem eficácia e sem
resposta aos problemas reais dos portugueses que cada vez mais passam fome.
Com esta enorme teimosia, esta
certeza e garantia de que não haverá problemas de segurança, em cima da primeira
ponte sobre o Tejo, em Lisboa, talvez o dirigente sindical pense numa
manifestação da maioria silenciosa, à maneira do 28 de Setembro, para comemorar
uma data, já um pouco retardada, e a figura do general Spínola com as suas
ideias de “Portugal e o Futuro”.