quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Calçada de letras


Calçada de letras

III

- Ó Nuno, Já estou a ficar farto de pedras e de calçadas! Que vida esta!...

- Que remédio tens? Não sabes fazer outra coisa…

- Um dia vais ver se não vou tirar um curso de engenheiro!

- Tu, engenheiro, Diogo? Deixa-me rir…

- Um dia vais ver. Este trabalho é duro, doem-me as costas de andar sempre no chão a alinhar pedras…

- Que remédio!

- O problema é não ter um lugar fixo para trabalhar, porque senão já estava na escola secundária.

- Também queres dar cabo da paciência dos professores?

- O que é que queres dizer com isso Nuno?

- Talvez sejas daqueles que não sabem mais do que uma criança de 10 anos…

- Por isso mesmo é que quero aprender, não sou como tu. Mas não penso em dar cabo da paciência dos professores.

- Não é isso que oiço por aí. Dizem que os professores, hoje, não têm autoridade e que os alunos não lhes têm respeito, que lhes fazem perder a paciência…

- Isso é um caso ou outro.

- No outro dia o Ricardo, o meu primo, que está no 10.º ano trouxe uma carta da Directora de Turma para o Encarregado de Educação que eu gostava que tu visses!

- Porquê, Nuno?

- Amanhã conto-te.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Debate mesquinho

O debate, na Assembleia da República de ontem (6-11-07), entre o chefe do governo, José Sócrates e o novo líder da bancada parlamentar do PSD, Santana Lopes, atraiu as atenções gerais. A avaliar pela reportagem apresentada nalguma comunicação social tratou-se de um debate mesquinho, uma espécie de ajuste de contas particular entre dois miúdos da escola. Foi, assim, uma coisa deste género:
“- Que pelintra me saíste, pá! Sempre apareceste?! Não te esqueças que eu é que mando! Olha o tal que esteve neste lugar e só fez asneiras! O povo, agora, escolheu-me a mim! Eu é que sou bom! Estou no poleiro e tu estás aí nessa posição inferior e miserável! Não te esqueças que foste escorraçado. És um derrotado, não venhas com ilusões, pá.”
“- E tu, quem pensas que és? Lembras-te do teu patrão ter levado isto tudo para o pântano? Tu eras um seu criado quando ele fugiu e nos deixou todos atolados e ainda estamos a pagar por isso. Quero ver se tu também vais fugir. Vamos ver no que isto dá nas próximas eleições. Quem irá ganhar, não serei eu, será o meu chefe que é muito melhor do que tu, seu presunçoso!”
Não é com debates destes que se discutem os verdadeiros problemas do país. Um chefe do governo deve ter uma visão da realidade acima das questões pessoais e partidárias e não se deve enervar com “faits divers”.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Calçada de Letras


Calçada de letras
II

- Nuno, estás a gostar das tuas aulas?
- Quais aulas, Diogo? Sabes muito bem que não tenho tempo para isso.
- Não te lembras daquela notícia que dizia que o governo queria dar oportunidades para quem não acabou os estudos?
- Não tenho dinheiro para comer quanto mais para livros!
- É certo que ganhamos pouco, mas… sempre podias aprender mais um bocadinho…
- Ó Diogo, mas tu achas que eu sou algum burro? Eu já aprendi muito aqui, no trabalho! O que é que pensas?
- Não gostavas de ter um diploma, Nuno?
- Que me interessa ter um papel que não me diz nada? Não gosto de fazer as coisas, mal feitas, a correr…
- Mas podias aproveitar esta oportunidade, não tens outra.
- E tu, que andas sempre a falar na escola, nem se quer lá puseste os pés! Para que é que estás sempre a falar nisso?
- Tens razão, Nuno, o tempo tem sido curto, mas ainda não desisti. Quando tiver mais tempo vou acabar o nono ano, vais ver.
- Pensas que o governo está muito preocupado que vás à escola? Tu e eu não és mais do que uma pedra de calçada no meio desta praça. Amanhã não vou conseguir saber onde é que ficou esta pedra que estou agora a assentar.
- Pois é, mas se deixares aí o buraco sem a pedra, amanhã vais notar bem onde é, ou não?
- Mas pensas que o governo quer saber se sou uma pedra ou se sou um buraco sem pedra, Diogo? Ou se sou um buraco sem estudos? Temos que nos despachar que não falta muito para a inauguração desta igreja.
- O que é que dizes desta igreja, Nuno?
- É uma igreja esquisita. Algumas pessoas não gostam muito. Uma igreja redonda!...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A política do desemprego

A política do desemprego

Às portas de mais um ano lectivo muitos professores constatam a triste realidade de que não têm lugar nas escolas onde grande parte deles já trabalhou e iniciou projectos que ficaram inacabados.

A Senhora Ministra da Educação defende-se dizendo que o Ministério não é uma agência de emprego e que o grande número de desempregados entre os professores se deve à diferença entre a oferta e a procura.

Onde está a sensibilidade do governo e dos políticos, em geral, para os problemas sociais?

Que dizem, sobre este problema, os chamados partidos de esquerda que sempre defenderam e lutaram pela criação de emprego?

Onde estão os cento e cinquenta mil empregos prometidos, pelo Senhor Primeiro Ministro, em campanha eleitoral?

Se certo deputado municipal de Lisboa tinha direito a ter dez assessores porque é que os professores do quadro (titulares e não titulares) não poderão ter direito a dois ou três? Não seria uma boa maneira de dar emprego a milhares de professores no desemprego? Será a actividade de professor menos digna do que a de um deputado municipal?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Mais justiça - menos justiça

59 salas de audiências

É curioso que este governo mande encerrar escolas, centros de saúde, esquadras de polícia, maternidades hospitais, etc. e invista em clínicas de aborto e salas de audiências, segundo as notícias de hoje. Há um provérbio, de que já não me lembro muito bem, que diz mais ou menos o seguinte: “uma sociedade bem organizada, justa e feliz é aquela em que os médicos não têm clientes, nas escadas dos tribunais crescem ervas daninhas e o padeiro não tem tempo para dormir”. Neste país passa-se precisamente o contrário.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O anti filósofo

As circunstâncias em que ocorreu a morte de um professor de Filosofia são o paradigma da forma como este governo, em geral e o Ministério da Educação, em particular, encara a educação e a cultura dos portugueses.

Pelo andar da carruagem, que este governo conduz, se percebe que só interessa adquirir meia dúzia de conhecimentos técnico profissionais desprezando tudo o que seja um conhecimento sólido baseado numa aprendizagem reflectida e bem elaborada a par de uma boa formação cívica, moral e filosófica.

Em nome do défice tudo é possível e justificável neste país. O que há alguns anos a esta parte eram os mais elementares direitos de um cidadão ou de um trabalhador, não passa, hoje, de letra morta aos olhos de um partido que sempre se afirmou como o defensor dos mais desfavorecidos. Calaram-se as vozes históricas dos seus fundadores, os arautos da liberdade, aqueles que se orgulharam de terem sido perseguidos e se exilaram noutras paragens. Mais parece estarmos perante um bando de cobardes que agora se calam quando o povo é ainda mais castigado do que eles quando fugiram. Onde está o pão, a saúde, a habitação e a educação tão prometida? Onde está a cultura e a tolerância?

Um primeiro-ministro, com o nome de um dos maiores filósofos de todos os tempos, que só vive obcecado pelo défice, fica a anos-luz dos calcanhares deste grande filósofo da Grécia antiga. Bem me parece que o maior défice que temos que enfrentar é a falta de uma verdadeira cultura e educação que torne os cidadãos livres, autónomos e responsáveis, a começar pelos governantes.

domingo, 8 de julho de 2007

Calçada de letras

Calçada de letras

I

– Tu já ouviste falar das Novas Oportunidades?

– Oportunidades para quê, Diogo?

– Não sei, mas acho que é para estudar?

– Eu não quero estudar, não gosto de livros. Quando ia à escola só estava à espera da hora da saída!

– Pois é! Não andas sempre a queixar-te das costas?

– Isso é verdade. Passamos todo o dia inclinados para o chão a fazer os passeios onde passam os doutores!

– Os doutores e toda a gente!

– Ai, ai as minhas costas! É cá uma dor!

– Não sabemos fazer mais nada senão partir pedra!

– E o que é que tu queres aprender mais?

– Não sei. Mas não quero passar a minha vida toda nisto. Vou saber o que é isso de Novas Oportunidades. Pode ser bom para a gente, Nuno.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Certidão de nascimento

Certidão de nascimento

sapere-aude

No dia 1 de Julho de 2007, domingo, dia em que Portugal dá início à presidência da Europa por um período de seis meses, em que é primeiro ministro de Portugal José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, secretário geral do chamado Partido Socialista Português, um partido chamado de esquerda, em que Aníbal Cavaco Silva é Presidente da República, em que Gordon Brown governa a Inglaterra, Dominique de Villepin a França, José Luís Rodriguez Zapatero a Espanha, Romano Prodi a Itália, Angela Merkel a Alemanha, Vladimir Putin é presidente da Rússia, George W. Bush é presidente dos Estados Unidos da América (do Norte) e na China governa Wen Jiabao, depois da segunda e última Lua cheia de Junho, a lua azul, viu a luz do dia do mundo virtual o “sapere-aude”. Nasceu o “sapere-aude” no tempo em que muitos atropelos à liberdade têm sido cometidos por este governo e por isso com muito mais razão se justifica uma voz que grite pela liberdade e que não se deixe intimidar pelo medo e pela prepotência. Pretendemos dar um contributo para o debate de ideias, troca de opiniões, divulgação de notícias, apresentação de comentários, etc.

WWW-Blogger, 2 de Julho de 2007

domingo, 1 de julho de 2007

Nasci


Acabei de nascer. Ainda não sei dizer papá nem mamã. O parto não foi muito difícil mas a gestação demorou vários meses, não me lembro bem de quantos.
Vamos esperar um pouco para eu começar a dizer qualquer coisa.