Exmo. Senhor,
Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de
Sousa,
No fim do passado mês de Abril, enviei uma carta a V. Excelência
em que referi algumas razões fortes para demitir este governo e questionei se não
seriam razões mais do que suficientes, mas V. Exa não demitiu o governo nem se
dignou a responder-me. Essas razões não só se mantêm como se reforçaram e
surgiram outras igualmente graves e poderosas. Escrevi em Abril que o governo é
ilegítimo, prometeu virar a página da austeridade mas fez o contrário e, depois
disso, tomou outras medidas discriminatórias, injustas e antidemocráticas que
restringem e condicionam a liberdade dos cidadãos.
1. Virar a página da austeridade? – Senhor presidente, recordo que o
senhor António Costa prometeu virar a página da austeridade, aumentar o
rendimento das famílias e fez a sua campanha eleitoral com o slogan: “É tempo de confiança”,
mas perdeu as eleições. Que confiança? O tempo tem-me dado razão. Cada novo
governo que sobe ao poder, seja ele qual for, aumenta os impostos e o país
continua cada vez pior. O senhor António Costa prometeu que ia inverter esta
situação mas falhou. Temos o direito de nos revoltar. É tempo de dizer basta! Quem
pode confiar neste governo e neste primeiro ministro que fez, precisamente, o
contrário daquilo que prometeu? Onde está o homem de palavra? Como podem os
portugueses aceitar esta enorme burla? Fomos todos enganados! Usou ainda o slogan: “prometemos, cumprimos” só
para iludir o povo! Cumprimos?! O orçamento para 2017 é a prova clara da mentira
e da falsidade deste governo. A minha expectativa era que alguns impostos
fossem aliviados e outros eliminados. Não só não foi cumprida a promessa de não
aumentar os impostos como ainda os agravou e criou outros. Tudo o que
consumimos e possuímos paga cada vez mais impostos: o açúcar, o património, os
combustíveis, os automóveis, o alojamento, etc. Alguns destes impostos são
inconstitucionais. Os pássaros têm os seus ninhos, a raposa, a sua toca, porque
é que nós não podemos ter uma almofada para reclinar a cabeça?
Admite-se que agora, os portugueses paguem impostos, mesmo quando estão a
dormir?! Já não se trata de uma cobrança legítima, mas de um autêntico saque! Quem
construiu uma casa para a velhice mas deixou de ter os rendimentos que já teve,
vai ter de vender a casa? Com que direito se tributa um bem que já foi
tributado na construção e na aquisição?
Este orçamento, tal como o governo, é uma verdadeira arte
de ilusionismo. O que vale dar uns míseros aumentos nas pensões, uns cêntimos
aqui e ali, se tudo se esvai no agravamento dos impostos e na subida do custo
de vida? O governo dá com uma mão mas, depois tira muito mais com a outra.
Prometer não aumentar os impostos não é como: “Ah! No próximo ano não me vou esquecer do
aniversário do nosso casamento! Prometo! Está bem?”. Esta enorme fraude, o
ter faltado à palavra dada, esta grande mentira não é razão mais do que
suficiente para demitir este governo, senhor Presidente da República? O senhor
presidente fica de consciência tranquila perante um autêntico crime de burla,
feito a mais de dez milhões de portugueses? Pode o senhor presidente, como
supremo provedor do cidadão, como defensor dos mais elementares valores éticos que
são a base do Estado de Direito, pactuar com esta situação?
Em vez de nivelar por baixo, senhor presidente, exija
nivelar por cima e faça funcionar a justiça, exija um “Carlos Alexandre” em
cada concelho ou freguesia, com todos os meios disponíveis para que os grandes
ladrões reponham os inúmeros milhões que roubaram e para que o povo deixe de
ser mais explorado e sacrificado com impostos. Acabe com as reformas e
subvenções de toda a classe política para quem ainda não atingiu a idade da
reforma. Acabe com as elevadíssimas, insultuosas e escandalosas remunerações de
certos gestores públicos que são uma afronta a quem aufere um ridículo ordenado
mínimo, a quem está no desemprego ou a quem tem pensões de miséria!
Com este orçamento, um assalto brutal do Estado aos
bolsos dos portugueses, vale a pena que um pedreiro se levante cedo para
trabalhar? Vale a pena que pegue na colher e na talocha, que suje as mãos, que
ponha a massa, que use o fio-de-prumo, a linha, o nível, se dedique e seja
exímio, seja perfeito, para chegar ao fim do dia, do mês ou do ano, cansado e
frustrado e verificar que andou a trabalhar em vão porque o que julgava seu, o
fruto do seu trabalho, lhe foi extorquido sem justificação, para alimentar uma
trupe de incompetentes e ignorantes que julgava serem gente de confiança? Vale
a pena que o comerciante abra a sua loja e atenda os seus poucos clientes, com
um sorriso nos lábios, quando sabe que grande parte do pouco que ganha lhe é
subtraído em impostos cada vez mais pesados e injustos? Vale a pena que o
feirante saia de casa antes de nascer o sol, monte a sua tenda e descarregue a
mercadoria para ficar à espera de clientes que não aparecem porque a população
em idade activa foi obrigada a emigrar e a que ficou vive na miséria? Vale a
pena que o agricultor pegue na enxada? Vale a pena que o povo se esforce para
sobreviver e ver o Estado a extorquir-lhe quase tudo o que ganha? Vale a pena que
o povo acumule algum dinheiro para ser considerado criminoso? Não é preferível
não ser dono de nada, não procurar emprego e viver de tanga, às sopas do
Estado? Que governo é este que promove o parasitismo à sua imagem e semelhança?
2. Educação livre e universal? – No domínio da educação o governo
assumiu uma postura discriminatória, sectária e anti-democrática ao restringir e
condicionar a liberdade de opção,
a todos os cidadãos, entre escolas públicas e escolas privadas. Ao afirmar que “quem
escolher os colégios que os pague” o governo está a condicionar
escandalosamente a liberdade e o direito das famílias de optarem pela escola
onde desejam que os seus filhos estudem. Significa isto que este governo só existe
ou só conta para uma parte dos portugueses. É um governo de facção: “Os
outros que se governem”. Mas “os outros”, os que, eventualmente,
escolherem escolas privadas também são portugueses e também pagam impostos. As
famílias mais pobres não têm o mesmo direito de optar por pôr os filhos num
colégio? Os alunos que estudam nos colégios não são portugueses e não têm
direito, também, a livros gratuitos? Porquê? Se todas as escolas, públicas ou
privadas, cumprem o mesmo programa oficial do Ministério da Educação e prestam
o mesmo serviço público aos alunos, por que razão o Estado exclui as privadas e
apoia apenas as estatais? Não há, aqui também, direitos adquiridos que devem
ser garantidos? Pode o Estado descartar uma escola como quem deita o resto do
almoço para o lixo? Se houver dois transportes colectivos de passageiros que
prestem o mesmo tipo de serviço público por que razão há-de o Estado apoiar e financiar
só o transporte estatal e excluir o privado? Afinal, este governo é para todos
os portugueses ou só para alguns, para os amigos, para os do partido e
simpatizantes? Esta atitude discriminatória, de falta de isenção, de
objectividade e de universalidade não é uma razão mais do que suficiente para
demitir este governo, senhor Presidente da República?
3. Aborto e educação – Que liberdade? – Em terceiro lugar, senhor
presidente, associada a este grave atentado à liberdade na educação está outro
ainda mais grave, mais injusto e mais absurdo: como se explica que uma mãe que
opte por fazer um aborto tenha todo o apoio deste governo (a 100%), possa optar
por fazê-lo em qualquer unidade de saúde pública ou privada do território
nacional, com recomendações explícitas pela própria lei de que nada falte ao
nível da coordenação de meios e de serviço e uma mãe que opte por criar e
educar um filho seja confrontada com míseros abonos de família, fracos apoios
do Estado e não tenha liberdade de escolher a escola, pública ou privada, onde
quer que o seu filho estude? Esta não lembraria ao diabo, senhor presidente. Liberdade total para matar:
sim; liberdade para criar e educar: não. É a subversão total da ordem natural
das coisas. Isto é gravíssimo e a Filosofia confirma esta enorme barbaridade e
perversidade. Isto não é uma razão mais do que suficiente para demitir este
governo, senhor Presidente da República?
4. Liberdade? E a responsabilidade? – Todos os alunos que estudam
Filosofia no ensino secundário aprendem, no décimo ano, quais as principais características
específicas da acção humana: consciente, voluntária, livre, deliberada, intencional
e motivada. Apesar das polémicas entre liberdade e determinismo afirmamos que o
ser humano é livre nas suas acções. Ensinamos também aos alunos que a liberdade
implica, forçosamente, a responsabilidade o que significa que o ser humano deve
assumir as consequências das suas acções. Identificamos também os conceitos de
responsabilidade pessoal, social e profissional e que cada profissão, em geral,
obedece a um código deontológico que impõe um dever moral segundo o qual
qualquer profissional se compromete a fazer o melhor que sabe e pode no exercício
da sua profissão com vista ao bem do cliente ou bem público. Partimos do
princípio de que um primeiro ministro age de forma livre, intencional e consciente
e, por isso, sabe perfeitamente aquilo que faz. A responsabilidade de um
primeiro ministro não se compara com a responsabilidade de qualquer outro
profissional ou cidadão comum a nível pessoal, social e profissional. Mas
qualquer cidadão comum sabe que tem que se responsabilizar por aquilo que faz. E
os políticos, em geral e este primeiro ministro, não sabem disso? É tempo, senhor
presidente, de pedirmos também responsabilidade a toda a classe política. Como
pode um governo apoiar e financiar a morte (aborto) despenalizando uma acção
(despenalizar significa retirar o castigo), que sabe que é criminosa (tem
consciência disso), sem assumir as suas responsabilidades? O senhor presidente
já imaginou o mal que esta acção governativa está a causar ao país a nível
económico, social e geracional? (Por que não despenalizar outros crimes muito
menos graves como o excesso de velocidade, o excesso de álcool, os pequenos
furtos, as injúrias, etc.?) Não se pode governar um país irresponsavelmente e
ficar impávido e sereno se o país for conduzido para o abismo. Não devemos
exigir responsabilidade a quem é culpado pela destruição das gerações futuras? Se
já sabemos que o PS é o “partido da bancarrota
e do pântano” (basta ver as contas do próprio partido), se, pelo passado
sabemos claramente o desfecho da sua política e se, por outro lado, não ganhou
as eleições, (é ilegítimo) por que razão havemos de acreditar neste governo, neste
primeiro ministro sem palavra, no seu orçamento e na sua política? Apesar de muita
gente considerar que muitos animais são mais inteligentes do que os seres
humanos, sabemos ou partimos do princípio de que nenhum animal age de forma
livre e responsável e por isso ninguém, até hoje, pediu responsabilidade a
qualquer animal pelas consequências dos seus actos. Vamos continuar a considerar
a classe política, em geral e este governo em particular, como animais
irracionais e irresponsáveis? Não está aqui mais uma razão forte para demitir
este governo, senhor Presidente da República?
5. Governo para a vida ou para a
morte? – Não
precisamos dos conhecimentos da Filosofia para condenar a barbaridade do aborto
e o desprezo que este governo tem pela vida e pelas gerações futuras. Perante
as naturais dificuldades, o povo, nos seus adágios, mostra a sua coragem e
fortalece o seu ânimo com a afirmação indiscutível: “vamos à vida que a morte é certa”
(o governo não sabe isso?) e, por isso, qualquer homem do campo, mesmo
analfabeto, se empenha e se esforça para ter o máximo de sucesso no trabalho. É
sabido que uma fraca colheita só traz ruína, fome e miséria. Nenhum agricultor
mata a sementeira que germina na terra. Pelo contrário, trata-a com todo o
cuidado. Um campo de milho ou de centeio valem mais do que a “sementeira humana”?
Como é que pode haver crescimento económico num país sem vida (humana) a
germinar e a frutificar? Porque é que há tantas insolvências, falências e
crédito mal parado? Para quê anunciar x milhões em investimento se a semente morre ao germinar? Como
é possível que o governo dê incentivos à natalidade se ao mesmo tempo financia
o aborto, isto é, a morte das gerações futuras? Afinal, este governo governa para
a vida ou governa para a morte? Pode governar para os dois lados?
Por outro lado, não é completamente absurdo que o
governo apoie o aborto mas queira aplicar um imposto sobre os refrigerantes só porque
podem fazer mal à saúde? Temos aqui a prova da maior falsidade e hipocrisia.
Esta também não lembraria ao diabo, senhor presidente. Já imaginou o senhor
primeiro ministro num hipotético diálogo com uma mulher (uma cena caricata,
improvável, mas possível):
- “Se optares pelo aborto, o Estado
paga tudo, não tens que te preocupar!
- Obrigada, senhor primeiro
ministro! Mas porque é que acabou com as taxas moderadoras sobre o aborto e vai
criar um imposto sobre os refrigerantes?
- Ah! Os refrigerantes, com um certo
teor de açúcar, podem fazer muito mal à saúde! É preciso ter muito cuidado!”
A hipocrisia não tem limites e encontra-se em muitas
outras situações como as restrições ao tabaco, algumas infracções ao código da
estrada, etc., considerados crimes graves que são castigados severamente,
enchendo os cofres do Estado, enquanto o aborto é, simplesmente, despenalizado.
Mas há mais, senhor presidente: Se o governo financia
a morte da sua própria “sementeira” é justo que depois retire a quem apostou na
vida, se esforçou e produziu boa colheita, se tornou “rico” e “acumulou riqueza”,
e dê ao outro, ao irresponsável, àquele que andou na farra e à boa vida, que abortou,
hipotecou a colheita e ficou sem nada? Isto é que é justiça social? Não é razão
mais do que suficiente demitir um governo irresponsável, hipócrita e que
governa a favor da morte?
6. Acabar com a precariedade
laboral? – Senhor
presidente, o senhor António Costa prometeu dinamizar as empresas, aumentar o
rendimento das famílias e acabar com a precariedade laboral. Em Março afirmou
que o país já respirava normalidade e que
os reformados não precisavam de se preocupar com a insegurança das suas
reformas. Tem-se vangloriado com a descida do desemprego nos últimos meses e
tenta mostrar que tudo segue em bom ritmo e de vento em popa. Mas, eu não
embarco nesse optimismo. Os números do desemprego são enganadores. O país está despovoado
devido à emigração. O emprego jovem continua acima dos 20%. Se o país aparenta
alguma normalidade e se o turismo tem prosperado, etc., isso não é mérito do
governo que aproveita essas situações para aplicar mais impostos, mas deve-se à
capacidade das pessoas em resolver os seus problemas, ao seu espírito
empreendedor e ao avanço tecnológico de que dispomos hoje.
A verdadeira precariedade começa no ventre materno. Como
é que o senhor primeiro ministro pode apregoar “É tempo de confiança” se
promove o desprezo pela primordial confiança que devia ser garantida no ventre
materno onde nasce a vida? Essa é a confiança fundamental, indiscutível na vida.
Um ser humano que não tem a certeza que vai nascer configura a maior de todas
as precariedades e desconfianças. Mas, uma criança que nasce começa por dar
emprego aos próprios pais e, com o tempo, cria uma série de empregos, em
cadeia. Muitas crianças criarão inúmeros empregos. Só assim se pode acabar com
a precariedade laboral.
O senhor presidente já consultou os números do aborto,
o seu orçamento e já enumerou as suas consequências? Da pouca informação que encontrei,
verifiquei, por exemplo, que em 2012 foram realizadas 18615 interrupções de
gravidez, em 2013, 17728 e em 2014 registaram-se 16039, nas
primeiras 10 semanas, por opção da mulher, que representaram, em média, 97% do
total de abortos, por outros motivos. Não sei quanto dinheiro se gastou, mas
imagino que esse dinheiro daria para salvar muitas vidas e pagar muitas
cirurgias urgentes, muitos tratamentos de doenças graves, muitas consultas de diversas
especialidades como as do dentista (eu que o diga, preciso urgentemente de avultados
tratamentos), etc.
Os milhares de crianças que não nasceram iriam encher
muitas salas de jardins-de-infância, de escolas básicas e secundárias e, por isso, dariam emprego a muita gente. Provavelmente, muitas destas crianças seriam futuros
génios nas diversas áreas de actividade, teriam ideias brilhantes para resolver
problemas políticos e sociais que ainda existem, (como o aborto e a eutanásia) que
ninguém resolveu e nos continuam a afectar.
A falência dos bancos, das empresas e da economia em
geral, para além de outros factores como a corrupção, é, fundamentalmente,
consequência da falência da vida no ventre materno. Os bancos e as empresas
precisam de clientes. Os clientes não são cães nem gatos. Coitadinhos dos cães,
dos gatos e dos touros! “Mas, as
crianças, senhor, porque lhes dais tanta dor?! Porque padecem assim?!”
Como é possível acabar com a precariedade laboral, para
quê fazer manifestações contra a precariedade, criticar as empresas, os
empresários e os patrões se é o próprio governo que fomenta essa precariedade
ao pôr em prática políticas abortivas? Senhor presidente, isto é ou não é mais
uma razão forte para demitir este governo?
7. Código de conduta ou corrupção
oficializada? – Quanto
vale a honra e a dignidade dos membros deste governo depois de elaborado e
aprovado um código de conduta que permite a um governante receber prendas até
ao limite de 150 euros? Que princípios éticos norteiam a acção deste governo? O
que vale a honra e a lealdade dos membros deste governo proclamadas na
cerimónia de juramento de tomada de posse? Desde quando é que os valores éticos
são quantificáveis? Como é possível que este governo possa definir e
quantificar a sua honra e a sua dignidade como se fossem valores venais? Como
pode um governante agir com a mesma isenção e transparência em relação a quem
lhe oferece ou não oferece prendas?
Senhor presidente, como é possível manter um governo
que, na prática, oficializou a corrupção? Se este
governo já está fragilizado devido à sua ilegitimidade e se chegarmos ao ponto
em que cada governante possa ter uma lista de entidades sobre as quais não pode
exercer qualquer poder ou aplicar qualquer resolução, para que serve este
governo? O que é que esses governantes estão lá a fazer? Pode o senhor
presidente pactuar com um governo sem moral e sem ética que se deixa vender,
que trabalha “à peça”, em part-time, que caminha receoso, de “cara tapada”, em
campo minado por si próprio, sem poder pôr os pés em qualquer sítio, que não
tem autoridade legítima e moral e age sem transparência e isenção?
É por tudo isto e porque mentiu descaradamente, o que
é imperdoável, que eu não tenho qualquer confiança neste primeiro ministro,
António Costa. Se ele mentiu o que havemos de esperar de todos os membros do
seu governo? Se o chefe mente por que não hão-de mentir também os seus
súbditos? “Quem mente uma vez mente sempre”. Quando “tomou de assalto” o poder
deu a entender que conhecia a situação real do país, sabia as dificuldades que
iria encontrar e teria uma solução para tudo. Afinal, “a montanha pariu um rato”.
Por outro lado, é um governo sem coesão, sem
liderança, sem projecto e com várias demissões pelo caminho. Desmorona-se como
uma arriba instável e a meter água. Governa à vista, por cabotagem, lança
medidas avulsas para tapar buracos, sob as ordens de quem mais grita ou bate o
pé e tenta puxar a manta de retalhos para tapar os pés enquanto descobre os
ombros. Quando vier o frio, a sério, não haverá austeridade que valha e o país transformar-se-á
numa múmia paralítica.
8. Governo de esquerda ou bando de
oportunistas? – Senhor
presidente, afinal o que é um governo de esquerda? É um governo sem
legitimidade, que vende ilusões e não cumpre o que promete, que confunde
liberdade com hedonismo, que se aproveita do poder para se banquetear com os
amigos e confunde o bem estar pessoal com a realidade miserável do país?
A esquerda do séc. XVIII e XIX surgiu para defender os
mais pobres (o 3.º estado) da exploração das classes privilegiadas, por um
lado, que lhes impunham pesados impostos mas viviam faustosamente e, por outro,
da ganância dos “bosses” que lucravam
fácil e exponencialmente com a mecanização da indústria, à custa de mão de obra
barata, escrava, proletária, em condições miseráveis, homens, mulheres e
crianças, catorze, quinze ou dezasseis horas diárias.
A esquerda actual vive instalada no conforto
capitalista que combateu no passado. Exige repartir o bolo, em nome da
igualdade, independentemente do mérito, eliminando e combatendo o estímulo
natural de quem sabe e gosta de produzir, dando lugar à fome quando o bolo
acabar. Hoje limita-se a atacar o “patronato reaccionário e explorador”, os
“latifundiários”, o “grande capital, os grandes grupos económicos” e “todos
aqueles que se esforçam em poupar e acumular riqueza” e, com esta lenga-lenga
do papagaio, iludiu milhares de pessoas e destruiu grande parte da indústria e da
economia ao longo de quarenta anos. No tempo do escudo, o sucesso das
conquistas sindicais, por melhores salários que se anunciavam, infalivelmente,
no fim de cada ano, não passavam de uma grande ilusão devido à enorme inflação
que desvalorizou tanto o escudo e lhe reduziu tanto o tamanho que já mal se
podia ver a olho nu, só à lupa. Os aumentos inflacionados calavam o
descontentamento, atirando o país ainda mais para a miséria e obrigando a
trabalhar mais, em oposição à disciplina sindical, o que arruinava e debilitava
mais a economia.
Com a chegada do euro, não podendo desvalorizar a
moeda, as conquistas salariais deram lugar a derrotas, cortes e austeridade.
Esta esquerda, sem ética e sem escrúpulos, aliada à corrupção, passou de “presa
a predador” e, em vez de servir o povo e o país tem feito o contrário para
benefício próprio, da família e dos amigos. É uma ideologia que ataca quem
produz, identifica um patrão com um ditador, apodera-se dos lucros como troféus
de suposta justiça social e semeia o caos, a miséria e a fome. Senhor
presidente, o país está quase todo vendido ao estrangeiro e este governo perpetua
as condições para uma economia débil, moribunda, improdutiva e anémica, incapaz
de fazer face à globalização e, por isso, a maior parte das nossas empresas, as
maiores e mais lucrativas e não só, já não nos pertencem. Portugal é, hoje, uma
placa giratória para benefício da economia mundial, sem rosto, um cais ao
serviço dos capitalistas estrangeiros que importam e exportam, enquanto os
portugueses ficam a ver navios e só lhes resta emigrar.
Hoje não há verdadeiros partidos de esquerda. A
esquerda só sobrevive no meio da prosperidade alheia de que se aproveita, tal
como as ervas daninhas que crescem viçosas, mas oportunistas, à custa do
estrume das plantas cultivadas para as asfixiarem e dominarem. Chegámos a um
ponto em que já não “há vida para além do défice” mas eu luto e acredito que
haja vida numa verdadeira democracia, para além deste sistema podre, de falsa
esquerda, em que vivemos. Que democracia é esta que não garante que quem ganha as eleições tenha o legítimo
direito de governar e de levar o seu mandato até ao fim, dando preferência a
oportunistas e manipuladores? Para quê apelar ao voto (“o voto é uma arma?”),
se os resultados das urnas podem ser manipulados pelo parlamento à revelia da
vontade soberana do povo? Que constituição é a nossa que permite este desrespeito pela vontade
popular? Que valor tem o refrão: “o povo é quem mais ordena” se o
parlamento não respeita o veredicto das urnas? Democracia é um regime sem
regras, sem disciplina, sem rigor, uma anarquia em que tanto faz ganhar como
perder as eleições? Por que razão a abstenção atinge valores tão elevados? O
que é que o povo diz: “Eles são todos iguais?!”
Não é verdade, senhor presidente, que para além de
demitir este governo, é preciso refundar a democracia e rever a constituição?
9. Conclusão – Esta carta já vai longa. Admito
que me repeti, aqui e ali, mas pretendi apenas clarificar algumas ideias. Para
concluir, senhor presidente, este governo tem pés de barro. O senhor primeiro
ministro é como um adolescente que se põe ao volante do carro do pai, feliz e
satisfeito, viaja para onde quer, convida quem quer e pensa que a vida é um mar
de rosas. Quando o carro ficar com o depósito vazio, o dinheiro se acabar e precisar
de reparações, adeus felicidade. Se um dia tiver que gerir os negócios do pai,
em pouco tempo, cairá na insolvência. A única solução é “vender os anéis”, se
for honesto, e começar tudo do zero. A austeridade não será uma opção mas uma
obrigação, uma necessidade ou uma imposição.
Esta carta não tem nada de ideológico, partidário ou tendencioso.
Apresenta um conjunto de argumentos que são puras verdades sobre os grandes defeitos
deste sistema, deste regime e desta anarquia que desgoverna o país em benefício
de quem exerce ou tem exercido o poder ou se encontra na sua esfera de
influência.
O que vale apelar ao consenso se todos os partidos
consentirem em caminhar para o abismo? Neste cenário de falsidade, de mentira e
de hipocrisia como pode “querer a Fortuna esperança de algum contentamento”? Que
sucesso se pode obter com base na falsidade? É preciso procurar a verdade,
apesar de sabermos que já nem nas ciências exactas se encontram critérios de
verdade e de objectividade absolutas. Mas, se no futebol se procura a verdade
desportiva, porque não havemos de defender a verdade política originária, a
partir das urnas? Sabemos que o calcário se identifica pela acção do ácido
sulfúrico, que, pela descoberta de Newton, todos os corpos exercem entre si uma
força de atração directamente proporcional às suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado das distâncias e que o calor dilata os corpos e
purifica os metais. Mas a política não pode nem deve ser uma simples
subjectividade ou anarquia, em que cada um diz e faz o que lhe apetece. A
matemática é a ciência mais rigorosa e democrática que existe e permite, a
todos sem excepção, ao pobre e ao rico, fazer contas e tomar consciência da
desigualdade e da injustiça que há nas diferenças escandalosas de quem ganha o
ordenado mínimo e de quem ganha dezenas ou centenas de ordenados mínimos por
mês numa República que pugna pela igualdade. Queremos um governo que saiba
criar riqueza para acabar com a pobreza e que não destrua a riqueza já criada para
pôr toda a gente na pobreza. Está mais que provado que este governo não sabe
criar riqueza, limita-se a consumir e a tributar as reservas, ou seja, serve-se
oportunisticamente da riqueza já criada e por isso deve ser demitido. A minha
confiança no senhor António Costa é inversamente proporcional ao carácter optimista
e voluntarioso que aparenta. Não podemos cair na ilusão.
Ao longo das últimas décadas, os nossos políticos não
venderam só os “anéis”, mas terão vendido também “a alma ao diabo” e em vez de
servidores do povo tornaram-se caixeiros viajantes ou turistas profissionais de
luxo, pagos pelo povo, que continuam a vender tudo o que pode dar lucro ao
estrangeiro: empresas, bancos, seguradoras, etc., esquecendo e desprezando a
“prata da casa”, o valor e o talento dos nossos empresários, dos nossos
profissionais, dos nossos licenciados e de todo o povo. Que legitimidade tem o
senhor primeiro ministro para leiloar o país? Quem é que lhe conferiu o mandato
e a autoridade? Quanto já foi gasto, em viagens pelo mundo ao longo de várias
décadas, para “atrair investimento estrangeiro” e qual o retorno dessas viagens,
se cada vez estamos mais pobres e mais endividados? Para quê fazer negócios na
China (já foi “chão que deu uvas”) se temos cá gente com valor, com capacidade
e competência para tomar conta das nossas empresas e ajudar a construir um país
mais próspero, mais justo e mais harmonioso, em vez de emigrar?
É provável que o senhor presidente não leia esta
carta, a ponha na gaveta do esquecimento, a deite para o lixo ou faça o mesmo
que fez com a anterior que nem sequer se dignou dar-me uma resposta. Não falo
aqui de “faits divers”, mas da verdadeira realidade que
está para além das aparências. Desde a Antiguidade que o senso comum, baseado
nas aparências, afirmava que o Sol andava à volta da Terra. Galileu foi
obrigado a abjurar mas era dos poucos que tinha razão. Espero que o senhor
presidente se liberte da “profana inquisição” que hoje teima em esconder a
verdadeira realidade política e não vote ao desprezo alguns dos seus concidadãos
que queiram contribuir para a resolução dos verdadeiros problemas do país.
Temos que inverter esta rota de decadência e de
pobreza e exigir timoneiros competentes ao leme. Vasco da Gama apresentou
Portugal ao rei de Calecut como “cabeça, ali, da Europa toda”. É
imperioso fazer jus ao nome e não podemos permitir que, hoje, a Europa nos
subjugue. Portugal, como parceiro de uma União de Estados soberanos e independentes,
não pode ser prejudicado com normas, directrizes e imposições antidemocráticas
e injustas. Se a UE nasceu das cinzas da Europa (como a lendária Fénix), com
uma vontade comum de acabar definitivamente com a guerra e construir a paz,
começou por impor cortes (quotas) na produção de metais (carvão e aço) para o
fabrico de armas mas, suponho, não impôs quotas de produção agrícola, de produção
de leite e outros produtos essenciais à vida. A Europa tem que voltar às suas
raízes, aos seus princípios e para isso é preciso coragem e bom senso na defesa
de valores que favoreçam todos os seus membros. Se a Europa se desviou dos seus
princípios fundadores é tempo de arrepiar caminho e isso só está à altura de
que tem capacidade para comandar os destinos dos povos, os verdadeiros
filósofos.
Infelizmente, parece-me que a classe política em geral,
cá e lá, se preocupa mais com protagonismo, viagens, recepções, cimeiras, eventos
desportivos, etc. onde, por vezes, vemos um político que perdeu as eleições, no
papel de primeiro ministro, sem mérito,
a aplaudir um atleta que, com todo o esforço, e coragem mereceu ganhar uma
medalha de ouro e o título de campeão. É um sinal de grande hipocrisia querer
colmatar e abafar os desaires políticos e a incompetência com os triunfos
desportivos.
Senhor presidente da República, faço um apelo a V.
Excelência, à capacidade de análise e de compreensão, ao estatuto de
independência e de isenção, como supremo magistrado da nação, para que tome esta
importantíssima decisão de demitir este governo para bem de todos os cidadãos
deste país e das gerações futuras. Este governo não merece o benefício da
dúvida e, na minha opinião, não podemos ficar no “logo se vê”, “esperamos manter
o défice”, “esperemos que a UE não nos corte os fundos”, etc. Dos nove pontos
em que dividi esta carta, qualquer um deles seria razão mais do que suficiente
para demitir o governo. Sou um simples cidadão, mas autonomeei-me “deputado virtual”,
tipo e-learning, em nome dos 44,14%
dos cidadãos portugueses que por qualquer motivo não puderam votar, talvez
porque foram forçados a emigrar ou se encontravam a trabalhar, etc.
Senhor presidente, os problemas que os portugueses enfrentam
no seu dia a dia são bem reais e exigem uma decisão firme.
António Oliveira