terça-feira, 27 de outubro de 2015

Democracia e matemática – a legitimidade do poder



Dizem os entendidos que a democracia é um regime político em que o poder é a expressão da vontade do povo que se manifesta na escolha de um partido ou coligação que obteve uma maioria de votos. Diz-se também que o voto é a expressão soberana da vontade do povo. O voto é a arma do povo.

Os votos são todos iguais, mas uma minoria é diferente de uma maioria. E se houver uma maioria clara, mesmo que não seja absoluta, essa maioria deve governar como mandam as leis da democracia.

É legítimo que os partidos vencidos formem um acordo ou coligação e, assim, uma maioria pós-eleitoral para derrotar a maioria originária?

Uma coligação pós-eleitoral tem a mesma legitimidade que uma coligação pré-eleitoral?

Se os eleitores votam, sabendo que os partidos concorrem isoladamente, são diferentes, são opostos, atacam-se mutuamente e têm projectos diferentes e opostos entre si e opostos à maioria vencedora democraticamente, os mesmos eleitores não se sentirão, depois, atraiçoados se alguns desses partidos vencidos faltarem aos seus compromissos e às suas promessas e se coligarem para ter acesso ao poder? Que legitimidade têm os partidos vencidos de fazerem batota política pós-eleitoral criando uma maioria real, mas ilegítima que quer vencer a maioria legítima que resultou da contagem dos votos? Se esses partidos tivessem feito a coligação pré-eleitoral os eleitores teriam votado de igual forma nesses partidos coligados como votaram neles, isoladamente? Tenho a certeza que o sentido do voto seria totalmente diferente.

Os partidos que saíram vencidos das eleições concorreram isoladamente e saíram vencidos isoladamente. Não podem fazer batota depois de verificarem que saíram derrotados.

Vivemos num regime democrático ou num regime anárquico? Não é tempo de respeitarmos a vontade soberana do povo, independentemente de ser uma maioria absoluta ou maioria simples? Por que razão uma maioria simples não tem o direito de governar, livremente, durante um mandato? Não está na altura de alterarmos definitivamente as regras e respeitarmos a matemática eleitoral?
A assembleia da república é um espaço de democracia ou uma anarquia sem princípios e sem regras, onde vale tudo? As regras do parlamento devem ser alteradas. Só os deputados da maioria deveriam ter o poder de aprovar as leis. Todos os outros deputados deveriam, apenas, apresentar sugestões, manifestar as suas opiniões, apresentar argumentos, defender as suas ideias e debater e esclarecer os problemas inerentes às decisões tomadas. Isto é a verdadeira democracia. Só assim será possível responsabilizar um partido ou coligação pela governação do país ao fim de uma legislatura. Da forma como funciona o parlamento, em que a quantidade vale mais do que a qualidade nunca sairemos do marasmo, da confusão e da ineficiência da política. Nunca é possível atribuir responsabilidades a este ou àquele partido porque o desgoverno é geral. É por isso que o povo diz que os políticos são todos iguais.

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