Depois do Verão
infernal dos incêndios, que ânimo e que disposição têm as pessoas que ficaram
sem nada, para se deslocarem a uma mesa de voto, votarem e depositarem
confiança em quem deixou arder o país e agora lhes promete bem-estar e toda a
espécie de benefícios? Que vontade têm as pessoas para votarem quando sentem no
seu íntimo uma enorme angústia e sofrimento pela desgraça de que foram vítimas
sem que o poder político, central ou local, evitasse esta calamidade, que se tem
repetido todos os anos e ninguém no poder assume as suas responsabilidades?
Hoje, as urnas
de voto são verdadeiras urnas de morte e os votos são a força e a vida do povo,
em sofrimento, que o poder político mata, manipula, despreza e mancha com a mentira,
a hipocrisia e o oportunismo descarado.
Hoje, as urnas
de voto são caixões dos sonhos dos homens e das mulheres que ficaram sem casa e
acordam todos os dias debaixo do pesadelo da cinza, do verde queimado, da horta
inerte e sem frutos, desfigurada.
Hoje, as urnas
de voto são as caixas negras da traição de quem promete a felicidade, o bem-estar
e a solidariedade mas oferece a rapina, a injustiça, e a impunidade.
Que confiança
podemos ter nesta classe política que corre o país a fazer promessas mas é
incapaz de acabar com os incêndios que todos os anos transformam milhares de
hectares de floresta em cinza, ceifam vidas humanas e deixam muitos portugueses
na miséria?
Que confiança
podemos ter nesta classe política que é incapaz de acabar com o crime político
incendiário, uma calamidade anunciada, calendarizada e bem conhecida de quem
exerce o poder e continue a discursar e a fazer promessas como se nada fosse?
Que confiança
podemos ter no acto eleitoral se temos um primeiro ministro que não ganhou as
eleições mas está a governar? Afinal, que importância têm as eleições se temos
um governo que tomou de assalto o poder à revelia da vontade soberana do povo
expressa pelo voto?
O que valem as
promessas eleitorais? O que valem as palavras desta classe política que só
aparece nas campanhas eleitorais como raposas que saem da toca à procura das
presas para se banquetearem?
Com que direito
os governantes do poder central viajam por todo o país em campanhas do poder
local? Quem lhes financia as campanhas em duplicado? Onde estavam todos estes
“políticos profissionais”, que agora se fazem ouvir, quando o país era um
enorme braseiro em chamas? Por que razão ninguém levantou a voz, nessa altura,
a clamar por justiça mas não se calam agora a fazer promessas?
Como pode o
primeiro ministro abandonar o exercício das suas funções oficiais e vestir a
pele de um simples líder partidário em campanhas onde não é candidato?
O que vale uma
campanha de promessas ocas, de bajulação e de graxa política se os grandes
problemas a nível central são atirados para debaixo do tapete como os lesados
dos bancos, as greves e as reivindicações laborais, o défice de milhões da
Caixa que os clientes vão pagar com taxas injustas, o assalto a Tancos, a
corrupção, etc. que vão condicionar fortemente o exercício do poder local e a
concretização dos programas?
Fazer uma campanha eleitoral neste regime de farsa
democrática é uma enorme falta de respeito por todos os portugueses que
morreram nos incêndios e por todos aqueles que ficaram sem nada perante um
poder político que os abandona sem lhes restituir tudo aquilo que perderam,
porque a obrigação do Estado é defender pessoas e bens.
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