quarta-feira, 20 de julho de 2016

Défice de campeões!

A nível desportivo, Portugal está em alta no que diz respeito ao sucesso desportivo. Não me lembro de tantos títulos de campeões da Europa e do Mundo, por equipas ou individualmente, nas mais diversas modalidades e medalhas de ouro, prata e bronze conquistados por atletas portugueses, como neste ano de 2016.
Mas faltam campeões. Há um enorme défice de campeões em Portugal, na Europa e um pouco por todo o mundo. Falo do défice de campeões na política. Por que é que ao sucesso desportivo não corresponde também o sucesso na política, na administração pública e na gestão honesta da “coisa pública”? Se somos os melhores no desporto, na investigação científica, na indústria, na invenção de novas tecnologias, etc. por que razão temos políticos tão incompetentes a governar que só sabem aumentar impostos, agravar a austeridade e arruinar a economia e a vida das pessoas? Por que é que as regras do desporto como as dos Jogos Olímpicos: “Citius, Altius, Fortius”, que significa “mais rápido, mais alto, mais forte” não são seguidas também na política como exigência de “mais competência, mais justiça e mais honestidade”?
O mundo da política é, hoje, um mundo à parte onde não há valores e não prevalece o mérito nem a competência. Na política uma maioria pode ser uma soma aleatória de valores negativos, de projectos e programas contraditórios e inconciliáveis. Por isso, um partido que perder as eleições e ficar nos últimos lugares pode reclamar vitória e entrar no governo se, depois da Grande Final, isto é, depois das eleições, somar a sua derrota com as derrotas de dois ou três partidos como ele, fazendo batota, enquanto no desporto um atleta conquista uma medalha de ouro ou o título de campeão porque mereceu, porque teve mérito, porque foi mais rápido e chegou primeiro à meta, sem batota, mesmo que seja com a diferença de um milésimo de segundo, seguindo um escrutínio rigoroso, ao mais ínfimo pormenor. Muitos políticos também apontam certas metas para a educação, para o desenvolvimento sustentável: “para 2020”, “para 2030”, só para caçar votos e calar o descontentamento. Nessa altura, passada uma ou duas décadas e múltiplas transformações sociais e geracionais, já ninguém se lembrará delas e os políticos que as indicaram estarão a gozar a reforma dourada e nunca mais terão pensado no assunto enquanto o povo iludido com promessas à distância vai penando cada amanhã próximo e real, numa austeridade implacável e cada vez mais feroz.
Se tivéssemos campeões na política, o país seria outro. Se o governo fosse uma selecção de políticos de “alta competição” e se tivéssemos como primeiro ministro um “special one” ou um campeão europeu, teríamos a mais alta pontuação na gestão da “coisa pública”, na promoção da igualdade, na educação, na cultura, no desenvolvimento e na harmonia social, na criação de emprego, no combate à corrupção, etc. Ao grande défice de campeões na política em Portugal e na Europa correspondem todos os outros défices: nas contas públicas, na estabilidade, na segurança, na justiça, etc.
É ridículo e soa a falso ver um qualquer político, como por exemplo, o primeiro ministro, a receber, a aplaudir e a orgulhar-se de um atleta ou da selecção nacional que, com bravura, esforço, coragem e mérito subiram ao pódio e ergueram a bandeira nacional tendo ele assumido o poder de forma fraudulenta, sem regras e sem princípios, sem mérito e sem legitimidade, com base numa falsa democracia não representativa da maioria vencedora das eleições. Que identidade existe entre a valentia, a honra e o mérito dos campeões e a cobardia, a baixeza de carácter e a mediocridade da generalidade da classe política que pactua com a injustiça e a fraude e tolera que o país seja governado por incompetentes?

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