A nível desportivo, Portugal está em
alta no que diz respeito ao sucesso desportivo. Não me lembro de tantos títulos
de campeões da Europa e do Mundo, por equipas ou individualmente, nas mais
diversas modalidades e medalhas de ouro, prata e bronze conquistados por
atletas portugueses, como neste ano de 2016.
Mas faltam campeões. Há um enorme
défice de campeões em Portugal, na Europa e um pouco por todo o mundo. Falo do
défice de campeões na política. Por que é que ao sucesso desportivo não
corresponde também o sucesso na política, na administração pública e na gestão
honesta da “coisa pública”? Se somos os melhores no desporto, na investigação
científica, na indústria, na invenção de novas tecnologias, etc. por que razão
temos políticos tão incompetentes a governar que só sabem aumentar impostos,
agravar a austeridade e arruinar a economia e a vida das pessoas? Por que é que
as regras do desporto como as dos Jogos Olímpicos: “Citius, Altius,
Fortius”, que significa “mais rápido, mais alto, mais forte”
não são seguidas também na política como exigência de “mais competência, mais justiça e
mais honestidade”?
O mundo da política é, hoje, um
mundo à parte onde não há valores e não prevalece o mérito nem a competência. Na
política uma maioria pode ser uma soma aleatória de valores negativos, de projectos
e programas contraditórios e inconciliáveis. Por isso, um partido que perder as
eleições e ficar nos últimos lugares pode reclamar vitória e entrar no governo
se, depois da Grande Final, isto é,
depois das eleições, somar a sua
derrota com as derrotas de dois ou três partidos como ele, fazendo batota,
enquanto no desporto um atleta conquista uma medalha de ouro ou o título de campeão
porque mereceu, porque teve mérito, porque foi mais rápido e chegou primeiro à
meta, sem batota, mesmo que seja com a diferença de um milésimo de segundo,
seguindo um escrutínio rigoroso, ao mais ínfimo pormenor. Muitos políticos
também apontam certas metas para a educação, para o desenvolvimento sustentável:
“para 2020”, “para 2030”, só para caçar votos e calar o descontentamento. Nessa
altura, passada uma ou duas décadas e múltiplas transformações sociais e geracionais,
já ninguém se lembrará delas e os políticos que as indicaram estarão a gozar a
reforma dourada e nunca mais terão pensado no assunto enquanto o povo iludido
com promessas à distância vai penando cada amanhã próximo e real, numa austeridade
implacável e cada vez mais feroz.
Se tivéssemos campeões na política,
o país seria outro. Se o governo fosse uma selecção de políticos de “alta
competição” e se tivéssemos como primeiro ministro um “special one” ou um campeão
europeu, teríamos a mais alta pontuação na gestão da “coisa pública”, na
promoção da igualdade, na educação, na cultura, no desenvolvimento e na harmonia
social, na criação de emprego, no combate à corrupção, etc. Ao grande défice de
campeões na política em Portugal e na Europa correspondem todos os outros
défices: nas contas públicas, na estabilidade, na segurança, na justiça, etc.
É ridículo e soa a falso ver um qualquer
político, como por exemplo, o primeiro ministro, a receber, a aplaudir e a orgulhar-se
de um atleta ou da selecção nacional que, com bravura, esforço, coragem e mérito
subiram ao pódio e ergueram a bandeira nacional tendo ele assumido o poder de
forma fraudulenta, sem regras e sem princípios, sem mérito e sem legitimidade,
com base numa falsa democracia não representativa da maioria vencedora das
eleições. Que identidade existe entre a valentia, a honra e o mérito dos
campeões e a cobardia, a baixeza de carácter e a mediocridade da generalidade
da classe política que pactua com a injustiça e a fraude e tolera que o país
seja governado por incompetentes?
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