sábado, 22 de novembro de 2014

A detenção de Sócrates e o azeite



Diz o povo que “a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima”. Estamos no tempo da colheita da azeitona, das fainas dos lagares e daqueles ambientes tradicionais em que se prova o novo azeite com bacalhau, com batatas a murro, bacalhau assado na brasa, ao calor fornalha enorme de ferro dos lagares mais antigos, porque os modernos utilizam outros processos. O azeite novo faz sentir emoções renovadas, com os velhos sabores e paladares de sempre, misturados com a broa, as couves e outros produtos da terra. Toda a gente sabe que o azeite não se mistura com a água, deixando as águas ruças no fundo das cubas do lagar. Se misturarmos azeite e água num copo acontece o mesmo. Sendo a água mais densa, o azeite permanece na parte superior e por isso se diz que “o azeite vem sempre ao de cima”.

O azeite novo precisa de tempo para ficar limpo e separado da borra. Ao fim de algum tempo, meses e/ou anos, a borra fica no fundo e o azeite mostra toda a sua cor e sabor com no seu esplendor. Na vida, a dificuldade em descobrir a verdade sobre casos obscuros requer, por vezes tempo, como acontece com o azeite.

Mas o azeite de que se fala, hoje, na política portuguesa é de colheitas mais antigas. Este azeite, depois de assentar, ficou mais límpido e transparente mostrando a sua cor natural e a sua verdade. O problema é que este azeite foi sempre demasiado ácido e rançoso, que tem provocado enormes dores de estômago a toda a gente que vive debaixo de uma forte austeridade, de borra negra e pestilenta que tem por cima uma enorme cuba cheia de azeite que sabe a fel, cuja verdade se pretende apurar com a detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates.

Já que o azeite rançoso não serve para a alimentação, ao menos que sirva para manter acesa a lamparina da justiça portuguesa e para que os portugueses não percam o rumo do futuro. Talvez esta pequena lamparina possa ser a pequena luz ao fundo do túnel que se apagou há vários anos sob os ventos da corrupção, da perversão e da falsidade.

2 comentários:

  1. Bom dia amigo
    Foi com muito prazer que te li. Uma comparação perfeita. Fomos criados nestas lides dos lagares do vinho e do azeite. Sabemos quanto é injusto ter de beber azeite que se adulterou e que perdeu todo o valor. O mesmo se pode dizer do vinho. As nossas colheitas perderam a qualidade politicamente.
    Não falo apenas nesta figura mas em todas as que se serviram da politica para estar bem na vida e ter todas as consequentes mordomias. Quantos perderam o sentido de estado, de justiça e de razão social.
    Matando a educação e a família estamos a destruir a nossa sociedade.
    Envio um abraço.

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    1. Olá,
      É verdade. A política portuguesa continua a ter azeite de má qualidade onde a borra continua a sujar o país e a querer tapar os olhos das pessoas.
      Um abraço.

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