Se Sócrates estudou Filosofia a
sério, em Paris, a única razão admissível para ter decidido regressar tão depressa
ao país, onde a maioria dos portugueses o desejariam ver atrás das grades, há
muito tempo, só pode ser a de confessar todos os crimes, burlas, fraudes e
favorecimentos ilícitos que cometeu durante a sua vida política desde que assumiu
funções públicas em Portugal. Deve-lhe ter pesado, finalmente, a consciência. Prometeu
progressismo, felicidade, cento e cinquenta mil empregos, e tudo o que de mais
excelente se pode prometer na actualidade. Agora terá verificado que, afinal,
meio país já emigrou, muitos estão no desemprego como num beco sem saída e
outros recorrem ao suicídio. O país está a definhar, a morrer e a desfalecer
tudo por culpa das suas políticas. José Sócrates não poderia continuar a sua
vida de luxo e ostentação à custa de inúmeras vigarices, fraudes e ilegalidades
enquanto os seus compatriotas morrem de fome, espoliados, oprimidos e
sacrificados como os condenados às galés.
Provavelmente, hoje, José Sócrates poderá
afirmar com conhecimento de causa que não recebe lições de moral de ninguém. Se
estudou Filosofia a sério, em Paris, terá passado a pente fino todas as teorias
morais elencadas nos mais famosos compêndios da especialidade. Um forte remorso
ter-lhe-á pesado a consciência de tal modo que terá aceitado sem hesitações responder
a todas as perguntas dos seus entrevistadores, gratuitamente, sem condições
prévias, sem arranjinhos, sem limitações de assunto. Desta vez José Sócrates irá,
finalmente, responder às vinte e sete questões que a Sra. Procuradora não teve
tempo de lhe fazer em tempo útil, arrastando a investigação para que o crime
prescrevesse.
Ainda para mais, a data é histórica
e o tempo é favorável. Acabou de ser eleito um novo Papa que é o exemplo da
simplicidade e estamos na semana Santa, a semana maior. Aproxima-se a
comemoração da morte e Paixão de Cristo. Esta surpreendente decisão de
regressar a Portugal, nesta data, não poderá estar relacionada nem com as
futuras eleições autárquicas, nem com eleições presidenciais, nem com o reforço
da oposição. Quem já conquistou o mundo, negociou com o diabo e enganou um país
inteiro e quase toda a Europa não terá mais aspirações que justifiquem a luta
pelo vil metal. Estaremos, logo à noite, perante o bom ladrão, que pregado na
cruz dirige a palavra a Cristo e a Portugal moribundos? Resta saber se haverá
coragem e capacidade para prometer que “Hoje estarás comigo no paraíso”.
Quem não aceitar esta imagem de bom
ladrão, talvez aceite a outra do Zaqueu que subiu a um sicómoro e a partir dali
prometeu devolver quatro vezes mais às suas vítimas.
As novas levas de emigrantes que enchem a capital
francesa terão despertado este enorme remorso ao novo pecador arrependido que,
do cimo do seu sicómoro de ostentação e de luxo, terá vislumbrado a miséria que
ele próprio provocou ao seu país e ao seu povo. Esperemos para ver, hoje à noite.
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