quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Na hora do recreio II


As queixinhas do menino Sócas
- O que é que se passa, menino Sócas? Estás a brigar com os outros meninos?
- Não! Eles é que são maus e estão todos contra mim!

- São maus? Não quero aqui meninos maus! Ai! Ai!... Ai! Ai!...

- Ó senhora professora, mas eles juntaram-se todos contra mim, da esquerda à direita e não me deixam jogar! Isto nunca se viu em lado nenhum!

- Não te deixam jogar ou tu não queres?

- Eles é que não me deixam…

- Não me estás a dizer a verdade, menino Sócas! Tu é que nos meteste, a todos, num grande pântano e agora queres arranjar uma desculpa para fugires, não é?

- Não, senhora professora.

- Vamos lá a ver menino Sócas, que jogo é esse?

- Não sei, senhora professora. Eles foram todos para o Parlamento e eu fiquei aqui sozinho no governo…

- Então esse não é o jogo democrático, menino Sócas? Não sabes como se joga?

- Não sei lá muito bem, senhora professora! Eu sempre fiz o que quis! E agora também quero mandar em tudo…

- Mandar em tudo? Não sabes que não tens maioria absoluta?

- Mas o senhor Presidente devia dar-me uma ajudinha e dizer aos deputados que façam, todos, o que eu mando!...

- Que façam o que tu mandas?

- Sim, senhora professora. Eu ganhei e sou o maior!

- Então tu queres uma "Assembleia Nacional" como antigamente?

- Sim... Não... Não sei, senhora professora. Nunca soube bem o que quero!

- Ó menino Sócas, o senhor Presidente está em Belém, não está na Ajuda nem em S. Bento!

- Eu sei, senhora professora. Mas agora dava-me muito jeito uma pequena Ajuda!

- Não foste tu, menino Sócas, que acusaste o senhor Presidente de interferir no programa eleitoral do PSD e agora queres que ele ponha ordem na Assembleia?

- Eu não posso jogar com dois orçamentos, senhora professora, isto é politiquice…

- Politiquice, menino Sócas? Não sabes que no jogo democrático é o governo que tem que se submeter à Assembleia e não o contrário?

- Mas eles estão a esticar, a esticar a corda… parece que me querem enforcar…

- Eles são os legítimos representantes do povo, menino Sócas!

- Podiam só fazer de conta que representam o povo e deixarem-me em paz!

- Fazerem de conta? Fingirem, menino Sócas? Quem foi que disse que cada um devia pedalar a sua bicicleta?

- Mas eu gostava que a Assembleia fosse boazinha para mim e me deixasse fazer tudo! Assim não vou ter dinheiro para pagar as minhas dívidas…

- As tuas dívidas? Não faças estradas e auto-estradas, TGVs e outras obras que não possas pagar!

- Eu só queria arranjar uns empregozitos, senhora professora! Se não fossem as obras que eu mando fazer não podíamos ver tantos camiões de um lado para o outro carregados de terra e pedras. Eu não faço tantas estradas e auto-estradas para ficarem às moscas!…

- Pois não, menino Sócas. Fazem muito jeito aos ladrões que roubam carrinhas cheias de dinheiro e camiões de tabaco para fugirem antes que a polícia os apanhe!

- Ó senhora professora, isso é tudo por causa da crise, eu não tenho culpa nenhuma. Nós nem queremos cá ladrões nem outros criminosos. Já comecei a vender as prisões…

- Já vendeste prisões e computadores Magalhães. Só tens feito trapalhadas e depois queixas-te que o dinheiro não chega, não é?

- Os presos ficam muito caros ao Estado, senhora professora! Os Magalhães são para entreter os meninos e os papás e, assim, não verem as trapalhadas que eu faço. Se ninguém vir, eu nunca fiz nada, porque não há provas!...

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