domingo, 30 de março de 2008

Calçada de Letras VI


Calçada de letras

VI


- Já não posso ver pedras nem calçadas, Nuno. Que maçada! É todos os dias a mesma coisa!
- Para onde queres ir, Diogo? O que é que queres fazer? Contenta-te com o trabalho que tens. Há muita gente por aí pior do que tu!
- Passo a vida aqui, de castigo, colado ao chão, Nuno!
- Deixa-te de lérias! Olha lá, quando é que vamos arranjar a calçada da Escola secundária?
- Não sei, talvez nas férias do Verão. Mandaram-me uma carta a explicar que a calçada não é muito urgente e que vai ser adiada.
- Olha! Ali vem outra vez o tio Chico.
- Boa tarde, passou bem?
- Menos mal, Deus te abençoe. Boa tarde para vocês também.
- Parece-me que hoje não vem com boa cara. O que é que aconteceu?
- Fui chamado outra vez à Escola, O Ricardo não tem emenda…
- O que foi, desta vez?
- Foi expulso de uma aula. Andou aos saltos em cima das mesas, partiu uma cadeira e atirou com um livro à cabeça de uma colega.
- Estás a ver, Diogo? O que é que ele anda a fazer na Escola? Ponha-o a trabalhar, tio Chico. Aperte com ele!
- Ó tio Chico, castigue-o mas dê-lhe mais uma oportunidade. Isto são fases…
- Nem sei o que hei-de fazer, Diogo. A Directora de Turma propôs que eu o obrigasse a fazer um juramento e a fazer, todos os dias, os trabalhos de casa.
- Um juramento? Que juramento?
- Tenho aqui uma proposta para eu ver e acrescentar mais alguma coisa, se quiser. Ó Diogo, não me queres dar uma ideia?
- Posso ver? Então, cá está: “Juramento do aluno Ricardo Redondo
Eu, Ricardo Marques Lopes Redondo, aluno da Escola Secundária da Ortiga:
Juro e prometo ler e cumprir o Regulamento Interno, no que diz respeito aos direitos e deveres dos alunos;
Juro que respeitarei todos os meus colegas, professores e demais pessoas que trabalham neste espaço;
Juro que me vou comportar sempre bem, quer nas aulas, quer nos espaços de convívio com os colegas;
Juro que me vou dedicar e empenhar no estudo e nas actividades das aulas;
Juro que me vou esforçar para que nunca possa ser acusado, por nenhum dos meus colegas, de os ter prejudicado no seu aproveitamento escolar;
Faço este juramento de livre vontade porque quero contribuir para a minha formação pessoal, cultural e humana e quero ajudar os outros em tudo o que for possível.”
Ó tio Chico, se conseguir que o Ricardo cumpra este juramento, vai ser um descanso.
- Não me dás mais uma ideia para eu pôr aí?
- Acho que está bem assim, tio Chico. E a ti, que te parece, Nuno?
- Tanto faz pôr como tirar, vai dar tudo na mesma. É só uma perda de tempo…

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